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Com presença do governador, encontro trinacional debate integração econômica entre Acre e países andinos

Autoridades dos três países debatem desafios e avanços para a integração da Rota Quadrante Rondon. Foto: Diego Gurgel/Secom

O governador Gladson Cameli esteve, nesta terça-feira, 9, participando do Encontro Trinacional da Integração Rota Quadrante Rondon, que ocorre em Rio Branco até a quarta-feira, 10, e reúne autoridades nacionais e internacionais para debater a consolidação do corredor interoceânico como via principal do comércio exterior do sudoeste da Amazônia brasileira. O objetivo é que o Acre seja protagonista nessas discussões.

Em 2023, o governo federal retomou ações para estabelecer e estruturar rotas de integração, culminando no lançamento pelo Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO) de cinco Rotas de Integração e Desenvolvimento Sul-Americano, sendo uma delas a do Quadrante Rondon, formada pelos estados do Acre e Rondônia e por toda a porção Oeste de Mato Grosso, conectada com a Bolívia e o Peru.

O momento, segundo o governador Gladson Cameli, é de debater os principais desafios e soluções para que esse corredor e as parcerias sejam fortalecidos.

“É um sonho antigo do Acre estabelecer um comércio intenso com os países andinos, a costa do pacífico dos Estados Unidos e as nações asiáticas. Essa é uma saída econômica para nós, que já vem sendo trabalhada há muito tempo, mas que, infelizmente, ainda não se tornou uma realidade. A localização geográfica do Acre torna mais fácil o comércio com os países vizinhos do que com o Sul e Sudeste brasileiro. Imaginem mercadorias que hoje demoram cerca de 45 dias para chegarem na China. Reduzir esse tempo para 15 dias, como seria? Isso tudo influencia na competitividade e custos logísticos dos nossos produtos”, destacou.

O governador destacou, ainda, que são inúmeros os desafios de logística e infraestrutura, mas que com a união de esforços o cenário pode mudar. Um dos pontos levantados durante o encontro foi a construção da ponte sobre o Rio Madeira e também o Anel Viário, que está com 99% das obras concluídas e que está sob responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) para finalização dos acessos.

O governante também salientou que os aeroportos, tanto de Cruzeiro do Sul quanto de Rio Branco estão aptos e recebem, esporadicamente, voos internacionais, mas que aguarda o interesse de empresas em fazer essa rota. Ele citou ainda que, fruto da última reunião com o presidente Lula, o Acre deve ser apresentado como um dos cinco estados propícios para os negócios durante o próximo encontro do G20.

“Vai ser montado um livro que será apresentado com aquilo que cada estado pode receber para quem quer investir no Brasil, e o estado do Acre é um dos selecionados, por estar cumprindo todas as pautas ambientais para que a gente possa trazer investidores, gerar emprego e renda. Esse material é importante, porque vai apresentar nosso estado para todos os investidores mundiais, que têm um olhar diferenciado para a Amazônia”, reforçou.

Cameli destacou que o governo tem tomado medidas para fortalecer união e parcerias. Foto: Diego Gurgel/Secom

Acre como porta de entrada

O titular da Secretaria de Indústria, Ciência e Tecnologia do Acre (Seict), Assurbanipal Mesquita, disse que essa é uma rota que muito tem a contribuir para o desenvolvimento não só do estado, mas de toda a região.

“Podemos definir essa rota como possibilidades para o estado do Acre, seja para nosso setor empresarial, seja para exportação ou importação, que é um campo de oportunidade muito maior. O Acre está voltado para o Pacífico, onde as atividades econômicas estão todas caminhando para esse lado, é o que o Ministério do Desenvolvimento está dizendo. E o governo do Estado já tem feito ações para deixar o Acre protagonizar esse tema na região Norte e nos estados vizinhos”, destacou.

Mesquita disse, ainda, que foi idealizado um roteiro, um mapeamento das atividades principais do estado para que esse corredor possa ser cada vez mais valorizado e fortalecido.

“O empreendedor acreano está dando respostas, visto que só agora no primeiro semestre alcançamos 90% da marca de exportações do ano passado, então esse é um marco, um dado que demonstra que o empresário está acreditando nessa pauta e agora esse corredor é o que vai conectar o Acre com o resto do mundo e vai tornar o Acre como porta de entrada para o Brasil”, completou.

Comércio exterior é pauta de encontro sediado no Acre. Foto: Diego Gurgel/Secom

O objetivo do Acre é liderar as discussões para viabilizar a consolidação da Rota Quadrante Rondon como via principal do comércio exterior do Sudoeste da Amazônia brasileira. Para isso, vem se posicionando de maneira estratégica nas mais diversas instâncias de discussão e decisão, tanto no âmbito das ações do governo federal quanto no âmbito internacional, sobre os programas e projetos de investimentos e estruturação desta rota.

O presidente do Fórum Empresarial de Inovação e Desenvolvimento do Acre, José Adriano, destacou que os debates iniciaram ainda em 2016 e chegaram a ser suspensos devido à pandemia. Porém, reconheceu o esforço do Estado tornar o Acre um ambiente propício para os negócios:

“Nosso sonho não para aqui. Nossa proposta é avançar o debate para com os países que estão na fronteira, para que a gente alinhe as ações. A construção da Ponte do Rio Madeira foi extremamente importante e agora estamos ansiosos para a conclusão do Anel Viário em Brasileia, que está em andamento, e estamos acompanhando cada um desses investimentos, porque isso faz com que nós tenhamos a logística”.

União entre países e governo federal

Ao iniciar seu discurso, Luciano Wexell Severo, subsecretário de Articulação Institucional do Ministério do Planejamento e Orçamento, destacou que o Acre tem sido modelo ao encabeçar as discussões que traçam as diretrizes dessa integração entre os países.

“Estamos plenamente articulados, nós do governo do Lula, com a equipe do Acre. Para nós é uma grande alegria estar aqui. Quero trazer uma mensagem de agradecimento. O Ministério do Planejamento está trabalhando junto com o Estado, relendo os projetos dos últimos anos e esse é um modelo que temos que seguir. Temos cinco rotas, mas esse modelo deve ser seguido. O sucesso desse trabalho é a capacidade de articulação, do setor da academia, do setor privado, governo, e órgãos de controle e segurança”, disse.

Reforçou também que este é um projeto de nação e que empodera e coloca o Acre no topo de grandes negociações. “O Brasil não termina aqui, começa aqui. Então, é muito importante essa articulação. Isso deve servir para que transformemos esse tipo de espaço, articulação, em um braço que apresente as demandas, as informações, que apresente os problemas à comissão do governo federal. Temos que comercializar mais produtos entre nós. E quero comunicar que, a partir desse diálogo, puxamos a linha verde, que está em Cruzeiro do Sul”, enfatizou.

Regis Richter Alencar, governador de Pando, diz que a rota é de interesse também do Peru, que tem agido em sinergia com o estado acreano para alinhar todas as ações em prol da qualidade de vida de quem mora na região:

“Muitos dizem que estamos distantes, mas a forma como nos integramos e nos conectamos para vender nossos produtos é importante para melhorar a qualidade de vida de nossa gente que mora na Amazônia. Temos muitas necessidades e hoje é uma oportunidade muito grande, porque queremos fazer parte dessa luta de integrar Brasil e Peru, porque vemos que será muito proveitoso para nosso departamento. Cordialmente, pedimos que abracem os países nessa integração porque, para mim, não há limite para trabalharmos de maneira unida, que fortaleça a integração. Estamos firmes para trabalhar integrados”.

Henry Álvarez, gerente central de Maximixe, empresa peruana, esteve no evento e disse que a integração também deve beneficiar os empresários dos países vizinhos.

“Os três países têm um potencial enorme para o crescimento econômico dessa zona, e essa integração vem contribuir para que cada país possa trabalhar de forma a fortalecer essa rota”, completou.

Porto de Chancay

Localizado a cerca de 60 quilômetros da capital peruana, Lima, Chancay é o primeiro porto com maioria de capital chinês na América Latina. O porto promete ser uma das maiores rotas de escoamento de produtos para a Ásia.

O investimento é de cerca de US$ 3,6 bilhões (R$ 17,8 bilhões). A empresa chinesa Cosco Shipping detém uma participação de 60% no porto e a Volcan do Peru, 40%. O projeto representa também uma consolidação dos investimentos da China no Peru.

Especialistas, empresários e os envolvidos na construção concordam que o porto de Chancay é uma oportunidade do Brasil se aproximar de mercados asiáticos, especialmente para os estados brasileiros mais afastados do Atlântico.

Com a nova rota, há expectativa de que o tempo médio de entrega de alguns fretes possa cair em um terço, chegando ao seu destino em 15 dias a menos do que o normal.

Após a abertura do evento, o governador Gladson Cameli se reuniu com Carlos Tejada Mera, gerente-geral da Cosco Shipping, que falou do andamento das obras e fez o convite para que ele fosse conhecer a estrutura, o que foi prontamente aceito por Cameli.

O encontro, além de debater os gargalos do comércio exterior no Acre, também vai abordar as ações propostas pela gestão para fortalecimento e estruturação dessa atividade, que envolvem relacionamento e promoção de negócios sustentáveis e de imagem; logística e infraestrutura do comércio exterior; barreiras em mercados externos; inteligência de mercado; assessoramento e capacitação de mão de obra; estudos e pesquisas estratégicos; estímulo e apoio a negócios acreanos para exportação; e facilitação e desburocratização do comércio exterior.

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