A diarista de Carlos Eduardo acabou de pedir o divórcio. Sei porque ele me escreveu agora aqui no WhatsApp. Disse que não vai poder encontrar pro almoço mais tarde porque pediu uma sessão extra de análise pra dar conta dessa situação. “Só tinha hoje, às 13h, Rô. Tem problema?”. Problema nenhum. Nem é que eu tivesse com uma vontade louca de encontrar, ele chamou o almoço pra me contar de um outro pedido de divórcio, o da mulher dele, ou ex-mulher, com quem está há 12 anos. Isso foi ontem de noite. Tadinho. Contar assim né, porque ele marca e não vem, desmarca, inventa uma reunião, uma enxaqueca, uma tia no hospital. A gente não se vê há 4 anos.
Carlos Eduardo é um amigo de pós-graduação a quem eu quero muito bem, embora compreenda completamente tanto o pedido da ex-mulher quanto o da diarista, ambas se chamam Patrícia inclusive. Sim, porque não sei se ficou muito claro, mas a diarista não pediu o divórcio do marido dela, pediu pra separar de Carlos Eduardo, e pediu por mensagem. Ele me encaminhou, era bem assim: Seu Carlos, estou tentando ter essa conversa com o senhor já faz umas semanas. O senhor pensa que eu não percebo, mas essa coisa de dizer que vai entrar em reunião e ficar trancado no quarto até a hora de eu ir embora isso é fuga sua. Eu escuto a entradinha da Netflix toda vez, assim que o senhor fecha a porta, tudun. Eu não queria fazer isso por mensagem, mas venho pensando muito sobre nós dois e sobre a nossa relação nos últimos tempos. Sei que passamos por muitas coisas juntos, mas sinto que as nossas diferenças têm nos afastado, e percebo que estamos seguindo caminhos diferentes. Não é fácil dizer isso, mas acredito que seria melhor para ambos se seguíssemos em frente separadamente”.
Foi muito pra ele, sabe? Quando a Patrícia ex-mulher disse que ia embora, num textinho bem parecido com esse, qualquer coisa como: “isso não diminui o carinho que sinto por você e por tudo que a gente viveu juntinhos, mas sabe, a gente é novo ainda, merece tentar ser feliz. Sei lá, acho que não estamos conseguindo fazer isso juntos”, também por mensagem de WhatsApp, a única coisa que lhe ocorreu foi dizer “tu que sabe, leva o que tu quiser, mas com a Patrícia fico eu”. Não era exatamente uma questão de leva porque a casa era da Patrícia 1, nem uma questão de com a Patrícia fico eu porque a Patrícia 2 é uma pessoa e escolhe ela mesma se fica e com quem fica. Nem era exatamente uma questão de dizer porque Carlos Eduardo tem aquela dificuldadezinha de comunicação que a gente conhece e usava a mesma conversa da reunião/Netflix também no casamento.
Não respondeu nem uma nem outra. Pera só um pouquinho que o telefone tá tocando, já volto. Pronto, era ele. Disse que a analista desmarcou. A secretária pensou que tinha horário, mas se enganou, não tinha não. A agenda tá cheia, tão cheia que talvez até seja preciso encaminhá-lo a um colega. Tá difícil manter as faltas e remarcações, sabe? Parece que foi como ela começou a mensagem. Volto pra atualizar a situação do meu amigo se vocês quiserem, saber, claro, mas outro dia, porque, de minha parte, já almocei.
Boa semana, queridos.