Apesar dos avanços na medicina, ainda existem muitas dúvidas sobre o que acontece com uma pessoa que sofre algum tipo de dano cerebral, especialmente nos casos em que existe um quadro de coma ou de estado vegetativo. Estudos anteriores já demonstraram que é possível que esses pacientes vivam um estado de consciência mínima, no qual apresentam ocasionais sinais de excitação, podendo até abrir os olhos. Mas uma pesquisa recém-publicada investigou essa questão mais à fundo.
Publicado esta semana na revista The New England Journal of Medicine, o estudo sugere que esses pacientes apresentam atividades cerebrais conscientes o suficiente para compreender aquilo que acontece no seu redor, podendo até seguir comandos. Isso mesmo sem poder se comunicar verbalmente.
“Era mais fácil desconsiderar esse fenômeno quando se pensava que era apenas uma ocorrência rara. Mas, agora, com o nosso estudo, ninguém mais poderá ignorá-lo”, afirma Nicholas Schiff, um dos autores do artigo, à revista NewScientist.
Testes de atividade cerebral
Para analisar a ocorrência do fenômeno, os cientistas conduziram, ao longo de oito anos, testes comportamentais e de imagem em 353 pessoas com danos cerebrais graves. Essas pessoas tinha, em média, 37,9 anos, estavam internadas em seis centros de saúde intensiva, de diferentes países.
Nos testes, os participantes foram instruídos a se imaginar fazendo uma série de atividades – como jogar tênis, nadar, cerrar o punho ou andar pela casa – por 15 a 30 segundos. Depois de uma pausa, o exercício era retomado. O procedimento era repetido sete vezes ao longo de 5 minutos.
Em pessoas que não sofreram distúrbios de consciência, esse tipo de pensamento produz atividades cerebrais distintas, que podem ser identificadas em exames de ressonância magnética ou eletroencefalogramas (EEG). A ideia do estudo era comparar esses resultados típicos com os encontrados nos pacientes do estudo.
Foi assim que se percebeu que, entre as 353 pessoas com danos cerebrais, 241 não mostraram resposta externa a comandos verbais. Contudo, em 25% dos casos, esses indivíduos apresentavam atividade cerebral que correspondia à de voluntários sem danos cerebrais. Para aqueles em coma ou estado vegetativo especificamente, o número foi de 20%.
Implicações da descoberta
Na prática, a descoberta dos cientistas indica que um a cada cinco pacientes em coma pode ouvir, compreender e reagir a estímulos externos. Se há entre 300 mil e 400 mil pessoas com transtorno prolongado de consciência no mundo, como as estimativas projetam, cerca de 100 mil delas podem ter consciência oculta.
Entender que um indivíduo que parece inconsciente tem sinais de processamento cognitivo pode mudar a maneira como os clínicos e a família interagem com essas pessoas. Isso abre margem, por exemplo, para que novos procedimentos sejam utilizados em seus tratamentos, como as interfaces cérebro-computador (BCI), que podem fornecer uma maneira de dar às pessoas com transtornos de consciência uma comunicação bidirecional, que transforma os sinais nervosos em texto.
Por: Revista Galileu