Uma mentira contada por um nadador de elite dos Estados Unidos durante as Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro, custou a Ryan Lochte o fim de contratos com patrocinadores, uma suspensão de 10 meses e um indiciamento por falsa comunicação de crime na Polícia Civil.
Lochte disse que tinha sido assaltado, quando estava em um posto de gasolina, após sair de uma festa com amigos.
Em 2018, ele se tornou réu. Em 2021, o crime prescreveu, e o caso acabou arquivado na Justiça do RJ. A carreira de Lochte, no entanto, nunca mais foi a mesma.
Ele não conseguiu classificação para as duas Olimpíadas seguintes, em 2021 e 2024, e ainda enfrentou uma punição de 1 ano e 2 meses por doping em 2018. Sua carreira se resumiu a participações em reality shows nos EUA.
Durante as investigações, de acordo com o chefe de Polícia Civil da época, Fernando Veloso, a polícia só teve a certeza de que Lochte estava mentindo após conseguir as imagens do posto onde teria ocorrido o roubo.
Os depoimentos dos funcionários também deixaram claro o que tinha sido feito pelo grupo de nadadores americanos.
Houve ainda uma ação cinematográfica para garantir que os colegas de Lochte fossem ouvidos pela polícia: tirar os nadadores do avião quando estavam prestes a sair do país.
“A gente soube que 2 deles estavam indo embora, e eles foram retirados de dentro do avião. Conseguimos uma medida excepcional, senão a gente ia ficar com uma versão ali nunca confirmada”, comentou Veloso.
Farsa desmontada
Segundo as investigações, o grupo depredou um banheiro de um posto de gasolina e foi impedido de deixar o local pelos seguranças, que queriam que os atletas pagassem pelo prejuízo.
Posteriormente, alguns dos nadadores admitiram que estavam bêbados. Lochte, por sua vez, deixou o país antes de prestar depoimento.
“As imagens indicavam o contrário do que ele dizia, e a gente começou a identificar os funcionários que trabalhavam lá. Um deles disse que ele e os amigos estavam alcoolizados e promoveram um quebra-quebra no banheiro do posto”, contou o ex-chefe de Polícia Civil sobre o caso.
Posteriormente, o nadador afirmou que mentiu e pediu desculpas.
“Quero pedir desculpas pelo meu comportamento na semana passada – por não ter sido mais cuidadoso e sincero na forma como descrevi os eventos daquela manhã”, diz um trecho da carta de Lochte.
O nadador foi indiciado por falsa comunicação de crime em 2016. Prevista no Artigo 340 do Código Penal, ela significa “provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado”. A pena é de detenção de 1 a 6 meses ou multa.
O colega James Feigen também foi indiciado, mas fez um acordo para pagar R$ 35 mil em multa e deixar o país.
Ryan Lochte tentou a classificação para as Olimpíadas de 2021, mas não conseguiu a vaga para disputar os Jogos em Tóquio. Após a Rio 2016, ele participou de reality shows nos EUA.
Em 2018, ele foi denunciado pelo Ministério Público do Rio por falsa comunicação de crime. No entanto, o crime prescreveu, e o caso foi arquivado em 2021.
“Esse caso é emblemático porque mostra a necessidade que a sociedade tem de saber a verdade, mas também de esperar o momento de saber essa verdade, de esperar o tempo da verdade”, comentou Fernando Veloso sobre as investigações.
Por G1