Ícone do site Jornal A Gazeta do Acre

Por que o número de relações sexuais está diminuindo mundialmente?

Foto: Reprodução/Freepik

Hoje em dia, há menos relações sexuais do que alguns ano atrás. Também nascem muito menos crianças na Argentina (260.000 a menos por ano do que há uma década) e, além disso, as pessoas têm menos tendência a se relacionar de maneira real do que no passado.

Os especialistas não concordam totalmente sobre o que está acontecendo. Trata-se de um fenômeno que ocorre essencialmente em países chamados desenvolvidos, mas não se limita a eles. Em casal ou sozinho, os humanos tendem a ter menos qualidade de relações e, dentro delas, as sexuais chamam a atenção, apesar de parecer que o sexo se tornaria universalmente acessível uma vez que se “abrisse a porteira” para sua prática irrestrita.

Não é que essa nova forma de celibato, que faz com que se prefira ver uma série em casa ou passear com o cachorro a forjar relações “reais”, tenha surgido por uma tomada de consciência espiritual ou seja resultado de uma decisão consciente e feliz de abstinência erótica. Longe disso. O aumento da pornografia, por exemplo, cresceu e, segundo muitos autores, sua pedagogia mecânica e grosseira causou estragos nas relações sexuais das pessoas porque, além de promover um culto ao onanismo (a prática da masturbação em detrimento das relações sexuais reais), “ensinou” coisas distantes de serem agradavelmente aplicáveis na vida real, mas moldam as condutas de maneira altamente insatisfatória para aqueles que desejam se relacionar com sexo incluído.

A ideia “pornô” da vida sexual não é patrimônio desta geração, mas, através da internet, esse modelo aumentou e foi “legitimado” infinitamente nos tempos atuais.

Desencontro afetivo

Há uma variedade de hipóteses consideradas para explicar esse fenômeno complexo. Ao considerar-se que a diminuição sexual é sinônimo da redução dos vínculos e, talvez, diminuição demográfica (sabe-se que o sexo não é apenas procriativo, mas é difícil que os humanos se reproduzam sem ele). No entanto, segundo os especialistas, também há outros aspectos do tema relacionados à economia, ao trabalho e ao estresse da vida, mesmo para aqueles que conseguem chegar ao fim do mês com uma boa renda.

Além disso, existe um crescente desencanto afetivo entre as pessoas, imersas em teias ideológicas e emocionais nas quais o medo da dor e do desencanto são uma pandemia emocional secreta e corrosiva. A síndrome “I can buy me some flowers” (em tradução literal, “Posso comprar flores para mim mesma”), a música que Miley Cyrus escreveu como hino redentor após uma grande dor amorosa, se espalha, Como consequência, ,uitos preferem se presentear com flores a se aventurar em formar vínculos amorosos.

Como exemplo, recentemente uma mulher espanhola, Vanessa García, se casou consigo mesma. Como uma espécie de sacerdotisa da chamada “sologamia”, manifestou-se feliz por casar a sua própria imagem no espelho. Na cerimônia, houve convidados e tudo. Ao ouvir suas declarações, não se sabe se acredita ou não que ela está feliz. O que surge como uma convicção é que, a esse ritmo, nos extinguiremos, mesmo que os argumentos sejam válidos… se é que são.

Sem necessidade de demonstrar

Os que hoje têm entre 60 e 99 anos são a vanguarda da rebelião contra a moralidade e o punitivismo em relação à sexualidade. A moral vitoriana foi enfrentada, com exageros e tudo, pela geração que hoje é avó. Se não acreditar nesta afirmação, pergunte ao octogenário Mick Jagger sobre o assunto. Na prática, os jovens de hoje já não têm muito contra o que se rebelar na hora de conseguir permissão para expressar a sexualidade de diversas maneiras, quando comparados com antigamente.

Talvez, nessa linha, possamos ver um aspecto positivo na diminuição da sexualidade atual. A falta de urgência faz com que o sexo não seja buscado de maneira ansiosa e apressada, já que não há quem venha estragar a festa com repressões sem sentido.

Não sabemos qual é a importância dessa variável na complexidade de todo o assunto, mas não há dúvidas de que, em muitos casos, há menos sexo porque não há necessidade de demonstrar que se o tem. Isso permite o desenvolvimento de outros aspectos das relações, livres da ansiedade sexual de outrora.

A ideia de um indivíduo “se jogando” diante de um mundo perigoso e hostil é o que impregnou a alma da época. Como belas flores… mas em um vaso e sem raízes na terra, os indivíduos solitários buscam o nirvana solitário, dado que as coisas lá fora se tornaram difíceis. Nem a repetição de encontros via aplicativos, nem a permissão para ter uma sexualidade que jamais teria sido sonhada no passado parece superar o prazer de comprar uma boa comida via delivery, olhar para a tela e se refugiar no conforto da solidão. Pelo menos, assim a vida dói menos e, se dói, não se nota tanto.

Por: O Globo

Sair da versão mobile