Nascido como forma de resistência dos afrodescendentes na época da escravidão, o Maracatu é um movimento da cultura popular que envolve música, dança e história – e tornou-se uma forma de expressão da sua cultura e crença.
A sua origem é diversa, pois existem vários estilos de Maracatu, os primeiros registros são de 1800. Os negros podiam exercer sua religião por meio da festa dos Reis do Congo. Nessa festa, eles diziam que iam homenagear a coroa portuguesa e, portanto, utilizam roupas extravagantes ditas nobres para honrar o rei e a rainha de Portugual.
É, portanto, uma expressão genuinamente brasileira com misturas africanas, portuguesas e indígenas, e foi criada no estado de Pernambuco, sendo presente, sobretudo, nas cidades de Olinda, Recife e Nazaré da Mata.
Outro ponto a se falar é que os mestres do Maracatu eram exclusivamente homens, porém o cenário atual é diferente e mais mulheres exercem o papel de líderes à frente do Maracatu.
A expressão artística apresenta duas principais vertentes que variam de acordo com a região: o Maracatu de baque solto que tem sua origem nos povos indígenas que foram escravizados e Maracatu de baque virado, na qual se faz um cortejo há um rei e rainha, a dama de passo que carrega uma boneca chamada Kalunga, tem os batuqueiros que são as pessoas que tocam os instrumentos e tem o mestre ou mestra, nesse último é que se baseia o grupo da capital acreana: O maracatu de pé rachado.
O início do Maracatu no Acre
A história de como a cultura do Maracatu chegou no Acre, tem total influência da jornalista Vanessa França, que nasceu no Acre, mas se mudou com a família para Recife, aos cinco anos. Ela explica que foi lá que ela teve acesso a cultura do Maracatu.
“Fui aluna do Mestre Walter França, que foi o mestre do Maracatu Nação Estrela Brilhante e na década de 1990; eu comecei a tocar, vivi essa cultura e me apaixonei”, diz Vanessa, que aprendeu a tocar todos os instrumentos. “ Fiz mais alguns cursos de percussão para me aprimorar e, desde então, eu sou uma estudiosa disso, de percussão e do Maracatu”.
Em 2003, a jornalista voltou ao Acre a trabalho, mas confessou que sempre “batia aquela saudade”. “aquele aperto do peito do que eu mais gosto de fazer como hobby, tocar algum instrumento”, conta.
Em 2016, Vanessa foi procurada por Jordete Tomás, também conhecida como Detinha, para fazer um projeto para trazer instrumentos de maracatu a Rio Branco “Tivemos um apoio de um projeto do Sesc no Acre. E aí, fiz uma oficina de maracatu com esses instrumentos”, explica.
França, empolgada com a situação, resolveu criar um grupo de maracatu no Acre para que os instrumentos não ficassem guardados. “Por meio de um ofício, consegui a obtenção desses instrumentos; eles foram passados para mim e, em 2017, realizei a primeira oficina de maracatu, no Casarão”.
No carnaval de 2017, o grupo criado por Vanessa fez a primeira apresentação. “E daí em diante, a gente nunca mais parou. Começamos com mais ou menos uns 12, 13 integrantes nessa primeira oficina e atualmente nós temos quase 30 integrantes no Maracatu.
Vanessa complementa ao falar sobre a importância do Maracatu que é uma forma de resistência e identidade cultural, a qual foi censurada pelos brancos da época, visto que os negros escravizados não tinham direito de manifestar sua religião e tocar seus instrumentos e por meio do maracatu eles podiam reviver a cultura da África.
Desafios pelo caminho
O grupo Maracatu do Pé Rachado, assim como outros grupos espalhados pelo país, também enfrentaram alguns desafios. A jornalista conta que, no começo, as pessoas não se conheciam e portanto achavam estranho os instrumentos e os toques. Atualmente ela conta que a maior dificuldade é a compra dos instrumentos, pois eles não são encontrados para vender em Rio Branco: os instrumentos alfaia e xequerê geralmente são vendidos no Nordeste ou do Rio de Janeiro.
Uma mensagem
A jornalista conta que a principal mensagem que o coletivo deixa para a população em geral é que haja a valorização e respeito à cultura afrodescendente, às músicas que provém das religiões de matrizes africanas, como o candomblé e a umbanda.
“A gente quer transmitir o respeito pelos negros, pela religião afro e a valorização a igualdade e diversidade”, conclui Vanessa.