Os irmãos do atleta paralímpico Jeferson Souza Cavalcante, de 19 anos, seguravam com orgulho as dezenas de medalhas conquistadas por ele ao longo de uma jornada brilhante no atletismo. O jovem teve morte cerebral declarada no dia 12 de agosto, após um acidente de moto em um ramal no município de Bujari, no interior do estado.
Mesmo em meio à dor, a família foi solidária e decidiu doar os órgãos de Jeferson, que foram captados na Fundação Hospital Estadual do Acre (Fundhacre), sendo o fígado implantado na própria unidade, em um acreano de 47 anos, e os dois rins enviados à cidade de São Paulo, uma vez que o Acre está habilitado para transplantes renais, mas os pacientes listados ainda estão em processo de preparação para serem submetidos aos transplantes.
“Ele começou [no esporte] ainda criança. A primeira viagem foi com 14 anos pra Aracaju, aí foi três vezes para Sergipe, Brasília, São Paulo, e cada medalhinha conquistada, quando ele chegava, dizia: ‘mãe, essa aqui é sua’ e eu ficava muito feliz, porque muitas mães tinham dificuldade de conseguir 100 reais para ajudar nas passagens, e eu dava tudo de mim. Eu queria ele viajando, conhecendo o mundo”, relembra a mãe de Jeferson, Raimunda Luzia Sousa dos Santos.
Melhor amiga de Jeferson, a jovem Thalia Costa Magalhães considera que o amigo foi e continua sendo um herói. “Quando a gente teve a triste notícia de que o Jeferson tinha falecido, a Central de Transplantes falou com a gente e abriu a nossa mente de que ele poderia salvar outras vidas, com todo apoio, toda atenção, e nos fez ver que teriam partes dele vivas em outras pessoas. Toda a equipe foi muito atenciosa, e o que nos motivou é que o Jeferson era um menino de coração muito bom, e uma semana atrás, como se ele soubesse o que ia acontecer, ele falou que seria sim um doador de órgãos pra salvar outras vidas. Ele ajudava tanto [as pessoas] e mesmo após a sua morte, ele vai ser um herói”, ressaltou Thalia.
Doação de órgãos no Brasil
A doação de órgãos no Brasil é um processo regulamentado e organizado pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT), vinculado ao Ministério da Saúde. Ainda que a pessoa tenha manifestado em vida o desejo de doar seus órgãos, a autorização final é dada pela família após o falecimento, por isso, é importante fazer como Jeferson, e comunicar esse desejo aos familiares.
A doação de órgãos geralmente ocorre após a confirmação de morte encefálica (ME), que é a morte cerebral irreversível, cujo diagnóstico é feito por uma equipe médica especializada seguindo critérios rigorosos. Quando a morte encefálica é confirmada, a equipe médica notifica a Organização de Procura de Órgãos (OPO), vinculada à Central de Transplantes do Estado, que coordena o processo de busca de órgãos.
“Sabemos que o luto é um momento muito difícil e a Central se solidariza com todas as famílias diante da sua dor, mas, ao mesmo tempo, a gente fica feliz porque em outras pessoas os órgãos daquele paciente vão sobreviver e a família pode dizer que fez uma ação de ouro, porque para muitas pessoas, receber um novo órgão é a única chance de vida”, ressalta Celiane Alves, coordenadora da Central de Transplantes do Acre.
A doação de órgãos é um ato de solidariedade e pode salvar muitas vidas. É o que reforça o médico anestesista Alex Callado, que trabalha na equipe de transplantes de fígado no Acre há 10 anos.
“Aqui no Acre nós temos uma equipe maravilhosa que faz transplantes. E, o mais difícil a gente já tem, que é uma equipe capacitada. E uma das nossas maiores dificuldades é realmente quando temos um paciente elegível para transplante, e uma boa porcentagem desses pacientes, as famílias não aceitam doar os órgãos. Então, é muito importante essa conscientização. Que nós sejamos doadores e informemos para as nossas famílias essa condição de doador de órgão, que aceita doar os órgãos, para que a gente possa passar adiante uma vida, para que a gente possa salvar vidas”, frisou Callado.