A Fundação Hospital Estadual do Acre (Fundhacre), em Rio Branco, foi palco nesta segunda-feira, 26, de um encontro marcado por gratidão e alegria, entre o paciente Jair Raquena, de 49 anos, e os soldados da Radiopatrulha da Polícia Militar do Estado (PMAC) Lucas Carvalho e Rhaisa Marinho.
Há um ano, Raquena, natural de Ji-Paraná (RO), iniciou uma luta pela vida, após ser diagnosticado com uma grave doença no fígado. A corrida contra o tempo começou, pois o paciente necessitava urgentemente de um novo órgão. Inserido na fila de transplantes do Estado do Acre, uma vez que Rondônia não realiza cirurgias desse tipo, na manhã do último dia 13, Jair recebeu a tão aguardada ligação, informando que havia um órgão compatível de um doador de Goiânia.
Mais de 900 km o separavam da cirurgia. Após receber a notícia, embarcou com o filho em um táxi e se dirigiu o mais rápido possível a Rio Branco, uma vez que o tempo hábil para o reimplante do fígado, após a retirada, é de 12 horas. Depois de horas de viagem, finalmente chegaram à capital acreana, mas, desconhecendo a cidade, perderam-se. Com o tempo se esgotando, a aflição tomou conta de Jair e do filho. Foi então que visualizaram uma sirene ao longe e decidiram seguir em sua direção, encontrando uma guarnição da Polícia Militar.
“Estávamos em patrulhamento quando fomos abordados por um jovem [filho de Jair] que nos informou que havia um homem em seu veículo que precisava urgentemente chegar ao hospital para um transplante de fígado. Imediatamente, orientamos o motorista a nos seguir. Ligamos a sirene e abrimos caminho pelo trânsito para garantir a chegada rápida e segura ao hospital”, relatou o soldado Lucas Carvalho, motorista da Radiopatrulha.
Ao longo de todo esse processo, a equipe médica se preparava para o procedimento. “A maior dificuldade em um transplante é garantir que o órgão chegue a tempo para ser implantado no receptor. Tínhamos o prazo de 12 horas para trazer o fígado de Goiânia a Rio Branco e realizar a cirurgia, além de assegurar a chegada do senhor Jair à unidade a tempo”, explicou Valéria Monteiro, coordenadora do Serviço de Transplantes da Fundhacre.
Graças à agilidade também da equipe policial, Jair chegou a tempo à Fundhacre, onde foi prontamente atendido e submetido ao transplante. O novo fígado foi implantado com sucesso, e a missão foi cumprida.
O reencontro: emoção e gratidão
Depois de 13 dias dessa odisseia, o reencontro dos personagens dessa história só poderia ser comovente. “Desde que fui diagnosticado, minha saúde só piorava. Mas Deus me deu uma chance. Quando soube que havia um doador, vim o mais rápido que pude, mas ao chegar em Rio Branco, nos perdemos. Graças à Polícia Militar e à equipe médica, consegui chegar a tempo para receber o novo fígado”, disse Jair, emocionado.
Para o soldado Lucas Carvalho, o momento foi marcante e gratificante. “Foi uma alegria enorme poder ajudar diretamente a salvar uma vida. Como policiais, ajudamos a população diariamente na prevenção de crimes, mas esse caso foi especial. Ele nos mostrou que nosso trabalho vai além, cuidando da população de muitas formas. Foi gratificante ajudar o senhor Jair a concretizar seu transplante”, destacou o militar, ressaltando que a missão central da Polícia Militar é a proteção da sociedade acreana, auxiliando inclusive em situações inusitadas, como a que aconteceu com Jair Raquena.
Referência em transplantes
O Estado do Acre é referência nacional em transplantes de fígado, rim e córnea. Ao todo, são 518 procedimentos, dos quais 96 de rim, 331 de córnea e 91 transplantes hepáticos. Jair Raquena foi o paciente número 89 a conquistar um novo fígado.
Para a coordenadora Valéria Monteiro, cada transplante representa uma nova emoção. “Cada transplante significa uma vida salva. As histórias e desafios dos nossos pacientes criam um vínculo especial. Somos gratos a todos os que contribuem para o sucesso desses procedimentos, incluindo a Polícia Militar do Acre, que teve um papel crucial no caso do senhor Jair”, afirmou.
Com alta demanda por transplantes, a Fundhacre dispõe de um serviço ambulatorial para acompanhar os pacientes pré-operatórios ou já transplantados, o que faz do Acre referência também pela sobrevida dos pacientes transplantados. A logística para que o órgão chegue ao receptor envolve uma grande mobilização, com apoio de diversas instituições.