Em seu discurso de posse em janeiro de 2023, logo depois de citar Carlos Drummond de Andrade, “não nos afastemos…vamos de mãos dadas”, o ex-ministro dos direitos humanos Silvio Almeida pediu permissão para dizer o óbvio. Ele já ia na metade da fala, mais ou menos, eu vinha comovida desde o começo, mas chorei quando ouvi: “Mulheres do Brasil, vocês existem e são valiosas para nós. Homens e mulheres pretos e pretas do Brasil, vocês existem e são valiosos para nós”. Era o fim de um período em que o óbvio comovia, tamanha a distância do que era institucionalmente praticado no Brasil.
Ele seguiu listando outros grupos minorizados e finalizou esse trecho com “todos e todas que têm seus direitos violados, vocês existem e são valiosos para nós”. Na última sexta-feira, Silvio Almeida foi desligado do ministério sob denúncia de assédio sexual contra mulheres, incluindo a ministra da Igualdade Racial Anielle Franco, cuja irmã, Marielle Franco, assassinada em março de 2018, foi mencionada no mesmo discurso.
Terminamos a véspera do feriado de independência com uma pergunta. Valiosas pra quem? Nós quem? Meu convite é que a semana comece com respostas. Com a resposta de Elisa Lucinda, a de Tais Araújo, a de Camila Pitanga, de Sonia Guajajara, de Margareth Menezes, de Marina Silva, de Erika Hilton, de Carla Akotirene, de Bárbara Carine, de Valeska Zanello, de Débora Diniz, de Flávia Oliveira (no episódio de O Assunto e no Estúdio I), de Carol Pires, de Cristina Fibe, de Rita Batista, de Luana Génot, de Giovana Madalosso (na coluna publicada na Folha de São Paulo no do dia 8, Ninguém mata uma mulher por amor), de Lilia Schwarcz, de Antonia Pellegrino, de Vera Iaconelli, de Maíra Azevedo, de Gabi Oliveira, de Babi Amaral, de Anelis Assumpção, de Zélia Duncan, de Daniela Mercury.
Com a resposta de Anielle Franco e de todas as mulheres que decidiram fazer a denúncia. Com a resposta que pode vir das que ainda não se sentiram prontas pra falar, com respeito às que seguirão em silêncio. Questionar as vítimas, o tempo das vítimas e as escolhas das vítimas é desserviço. “Não nos afastemos…vamos de mãos dadas”. Nós, primeira pessoa do plural, pronome feminino. Nós, primeira pessoa do plural, pronome feminino.