Foi assim. A gente vinha no táxi voltando de um restaurante de voltar a pé. Deu R$8 o táxi, só pra vocês entenderem a distância. Era tarde, o dia tinha sido longo e eu senti que meu nariz ia travar. Não tinha travado ainda. Mas ia. Eu conheço meu nariz. Pedi pra descer uma quadra antes de casa pra parar na farmácia atrás de um Aturgyl. Todo um assunto o Aturgyl. Eu sei que não pode, eu sei que já tinha parado com o Aturgyl, mas voltei. Voltei. Conheço meu nariz. Entramos na Drogaria São Paulo na mesma hora que uma moça de camisola acompanhada de um homem ao telefone entrou. Fomos educados e esse foi o erro. Pra não bater de ombros com a dupla, demos aquela paradinha e deixamos os dois passarem. Ela encostou no balcão e puxou uma lista de, sei lá, uns 6 remédios. O moço do balcão começou: “RG? CPF? CEP? Endereço? Data de nascimento? Nome completo? É com I ou com Y? Qual era teu Ursinho Carinhoso preferido? Toddy ou Nescau? Xuxa, Angélica ou Mara Maravilha? A moça respondendo, o moço ao telefone. Esqueci de dizer que por cima da camisola tinha um penhoar. Ambos de seda e de florzinha. A gente na fila.
Tomou assim uns 18 minutos. E em 18 minutos o cara ao telefone falou no máximo 4 frases. Repetia, repetia, repetia. Aquela angústia. Aí chegou a nossa vez. Já fui logo negando o CPF que isso me cheira a venda de dados. Conheço meu nariz. E depois a questão dos Ursinhos Carinhosos é complicada pra mim. Aturgyl na mão, fomos ao caixa. Dessa vez, ultrapassamos a moça do penhoar na cara dura. Quem mandou parar pra olhar hidratante? Dois caixas vazios, um moço tentando comprar Rivotril na nossa frente. A moça do penhoar de cestinha na mão com os 6 remédios e o hidratante. O cara do telefone ao telefone. A gente na fila. Dá problema no caixa, mandam chamar o arrastado do balcão. Ele começa: “RG? CPF? CEP? Endereço? Data de nascimento? Nome completo? É com I ou com Y? Qual era teu Ursinho Carinhoso preferido? Toddy ou Nescau? Xuxa, Angélica ou Mara Maravilha? A gente resmunga. Surge uma nova moça pra tentar abrir um segundo caixa. O sistema não funciona. Surge uma terceira moça tentando abrir um terceiro caixa. O sistema também não funciona. A gente na fila, o moço tentando comprar Rivotril na nossa frente, a moça do penhoar de cestinha na mão com os 6 remédios e o hidratante, o cara do telefone ao telefone. Dava pra ter ido embora? Dava se, na agonia, a gente não tivesse aberto um pacotinho de pastilhas Valda que agora precisava ser pago. A moça 2 conta pra moça 3 que foi assaltada e deu o maior B.O. pra fazer o B.O. online e que “sistema é isso mesmo, quando a gente precisa, não funciona”. Quase que eu me agarro com o Rivotril do moço do Rivotril. Passou mais uns 18 minutos e conseguimos todos nos libertar do B.O.. Todos menos a moça do B.O. que, pelo que entendi, não tinha conseguido ainda. E a moça do penhoar que levou o moço do telefone, ainda ao telefone, pra casa. E sim, o nariz trancou no meio da noite. Aturgyl fez o que tinha que fazer. Conheço meu nariz. Boa semana, queridos.