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Arte da dramaturgia : conheça a história da atriz acreana que trabalha com teatro há mais de 27 anos

Jocilene Barroso, na peça "A bruxinha que era boa". Foto: cedida

“O teatro é tudo na minha vida”. É assim que descreve Jocilene Barroso, atriz, produtora cultural, professora e artista visual nascida em Rio Branco. Há mais de 27 anos, Barroso trabalha com teatro, e tem uma trajetória moldada por desafios e vitórias que a levaram a conquistar espaços e a transformar o cenário cultural da capital acreana.

No último dia 19 de setembro, foi celebrado o Dia Nacional do Teatro, uma data destinada a homenagear uma das manifestações artísticas mais antigas da humanidade. Por conta disso, A GAZETA conversou com a atriz para, justamente, falar um pouco sobre o tema.

Jocilene é envolvida com o teatro desde os 14 anos. Formada em Artes Visuais, Teatro e Cinema, iniciou a jornada por meio de uma oficina de teatro e, a partir disso, não parou mais.

O berço da formação como atriz e docente foi no Centro de Antropologia do Teatro e Antropofagia do Cinema (CATAC), dirigido pelo carioca Flávio Kactuz, a partir de 2000. Neste centro, ela trabalhou como atriz e pesquisadora cultural.

Flávio Kactuz ficou no Acre por mais de cinco anos, tempo em que treinou vários artistas a fim ficarem responsáveis pelo projeto Núcleo Estudantil de Cultura (NEC), voltado para a ministração de aulas de teatro, cinema e literatura em nove escolas do ensino médio. As razões para esta ideia era válida, tendo em vista que, naquela época, eram escassas esse tipo de atividade nessas áreas.

Formadores do Centro de Antropologia do Teatro e Antropofagia do Cinema. Foto: cedida

“Na época não tinha faculdade, não tinha nada dessas coisas de artes no Estado. Então, o governo preparou a gente: eram 15 pessoas para poder ficar responsável o projeto do Núcleo Estudantil de Cultura (NEC), e quem ministrava eram professores e pessoas interesadas em ensinar”, conta.

Por meados de 2010, Jocilene juntamente com a amiga Núbia Alves, criaram a Oficina de Teatro Expressão, onde aconteciam formações para novos atores, no Teatro Hélio Melo e no Cine Teatro Recreio. 

Por meio da Oficina de Teatro Expressão, com aulas de teatro para todas as idades, Barroso, junto com sua equipe, participou de dois Festivais de Esquetes, além de produzir trabalhos como “Alice no Páis das Maravilhas” (2012) e “Maroquinhas Fru Fru” (2012).

Oficina de Teatro Expressão. Foto: cedida

Com o passar dos anos, houve a necessidade de transformar a oficina em uma companhia de teatro para realizar apresentações dos espetáculos no Sesc Acre, além de ser necessário para aceitação na Federação de Teatro do Acre (Fetacre). Por isso, a oficina precisaria se tornar companhia, e Jocilene conta que este foi o maior desafio enfrentado, levando alguns anos para, de fato, se tornar uma companhia “Foi daí que surgiu a Companhia de Teatro Expressão, uma oficina de vários anos com os mesmos atores que já trabalhavam com a gente”, relembra.

Conquistas pelo caminho

Durante a caminhada, a atriz conta sobre as conquistas. Para ela, uma das maiores foi ter feito parte da construção de três companhias, a companhia Vira- Lata, o CATAC, e a Companhia de Teatro Expressão, que hoje atua como diretora. Além disso, fez parte da montagem do livro ‘Daqui onde estou dá para ver o Brasil’, com entrevistas de 62 artistas brasileiros.

Barroso também integrou o grupo que lançou o Cineclube Aquiri, na Usina de Artes João Donato, e ajudou na produção do filme de mesmo nome.

Também participou de coletivos com atores e diretores relevantes para a cultura acreana, como Marília Bonfim, Dinho Gonçalves e Regina Maciel, nos grupos do Palhaço Tenorino e Cia. Garatuja de Artes Cênicas.

Em 2012, criou o grupo de animação de festas Expresso Animação com o também ator e jornalista Daniel Scarcello, que realiza atividades em diversos aniversários e eventos da cidade e do estado até hoje.

Jocilene no espetáculo “Entre Mundos e Cores”. Foto: Arquivo Pessoal

 “Teatro, Cultura e Família”

Como a atriz, desde cedo, se envolveu com o teatro; portanto, não seria diferente que a sua família embarcasse nesse mundo. Foi desta forma que Jocilene, ainda grávida, pôs o seu filho, Kayk Amorim, hoje ator, modelo e influenciador digital, no universo do teatro.

“Foi algo necessário. O meu filho esteve comigo no teatro desde quando eu ainda estava grávida e, como eu vivia e respirava teatro, ele sempre este por perto. Ainda bebê mesmo, recém-nascido, eu levava pro teatro, deixava ele no palco, na beira do palco, ou nas poltronas, no bebé-conforto, e ele foi acompanhando aquilo. Conforme foi crescendo, começou a fazer teatro, e a primeira peça do Kayk foi com três anos de idade”, conta.

Além disso, o marido de Jocilene, o médico Arthur Dias, também entrou nesse processo. A atriz fala que o marido era muito tímido e que viu o teatro como uma forma de ajudá-lo a perder a timidez.

“Ele estava terminando a faculdade de medicina na Ufac [Universidade Federal do Acre] e eu vi o teatro como uma forma de ele perder mais a timidez e se comunicar melhor com os pacientes”, diz. 

A Cia Expressão já envolve filho, nora, marido, irmã e amigos. Todos são de fatos uma grande família, e Jocilene enfatiza que é muito além dos palcos, é teatro, cultura e família tudo isso interligado.

Com a companhia, Barroso dirigiu as peças “Escovinha Mágica” (2016), “João e Maria” (2017), “A Bruxinha que era Boa” (2017), “Encontro de Contos” (2021) e “As Aventuras de Pinóquio” (2021).

Espetáculo As aventuras de Pinoquio. Foto: cedida

A importância do Teatro 

A cultura molda pessoas, constrói identidades e transforma realidades. Diante disso, a artista fala que o foco principal é a formação de atores. “O público começa a ir ao teatro, levando a família, construindo cultura. Os espetáculos da companhia são criados para toda a família”, conta a atriz.

Por fim, Jocilene enfatiza que tudo o teatro a fez ser quem ela é. “O que eu respiro, o que me tornei, tudo gira em torno do teatro”, afirma, aproveitando para deixar uma mensagem a quem ama a arte.

“É uma cultura maravilhosa. No teatro, a gente pode ser o que a gente quiser, é o nosso momento para desestressar, para curtir, para viver. É emocionante estar no palco, sentir aquele friozinho na barriga, ver o rosto do público gostando do que você preparou, todo o carinho que colocamos naquilo; a nossa vida é muito corrida, mas a gente faz teatro porque amamos”, finaliza.

 

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