Dona Maria Zenaide de Souza Carvalho se lembra de cada uma das 322 crianças que ajudou a trazer ao mundo em mais de 50 anos como parteira. No domingo, 1º, a senhora, que tem hoje 67 anos, esteve no programa Domingão do Huck para tentar realizar um sonho: ajudar a dar continuidade à profissão que, atualmente, corre o risco de acabar.
Com exclusividade À GAZETA, dona Zenaide falou sobre a própria vida. O primeiro parto realizado por ela ocorreu de uma forma inusitada: enquanto a mãe estava dando à luz a um irmão da parteira, numa comunidade afastada em Tarauacá, a tia começou a sentir dores. “E, com dez anos de idade, fiz meu primeiro parto, sem saber mesmo, por necessidade. E assim, trouxe a primeira criança ao mundo. Minha tia e minha mãe ‘pariram’ com dez minutos de diferença”, fala, orgulhosa.
Ela continuou a desenvolver o trabalho e, após algum tempo, foi para o estado do Pernambuco com a intenção de estudar; no local, ficou por cinco anos. “Fiz cursos de parteiras, de terapia; quando voltei de lá é que que comecei a fazer parto direito”, esclarece, acrescentando ainda que, na zona rural, participar de 10 nascimentos já é um grande número pra uma profissão como a dela. “Na comunidade é diferente, não é como na cidade grande”.
Zenaide é filha, neta e sobrinha de outras parteiras, ou seja, a profissão é quase que uma tradição familiar. “E foi assim que eu comecei”.
Participação na TV
Quem acompanhou dona Zenaide no programa global foi a atriz e produtora acreana Sarah Jainy que, inclusive, teve o parto do filho realizado pela própria dona Zenaide.
Segundo Sarah, dona Zenaide participou do The Wall, um quadro do dominical que é basicamente um jogo de perguntas e respostas. Infelizmente, durante o programa, dona Zenaide zerou as perguntas.
“Mas o jogo é feito de três pilares, como eles mesmos [produção da Globo] falam: jogar, entreter e emocionar quem está em casa. Então, a gente zerou o jogo, mas a gente entreteve e emocionou muito quem estava nos assistindo. E foi nessa hora que o Luciano [Huck] convocou uma vaquinha on-line para que a gente pudesse realizar o sonho da dona Zenaide, que é continuar fazendo partos em Rio Branco, no Acre; poder comprar um carro para ir até o interior da cidade, até os seringais mais distantes; comprar o kit dela de parteira, que está velho, e tudo hoje é feito quase no improviso. Ela necessita renovar os equipamentos”.
Com a presença da parteira no programa, estão surgindo vários perfis falsos em redes sociais em nome de Zenaide. “E agora também estamos denunciando esses grupos, essas pessoas que estão fazendo golpes – não tenho outra palavra para descrever isso – e estamos tentando derrubar alguns perfis; já pedimos a solicitação do Instagram para a gente ter o Instagram dela verificado futuramente”.
Realização de um sonho
Além de parteira, Zenaide é compositora – com mais de 700 obras, que sabe decoradas – cantora, artista plástica e contadora de histórias. Fã de Roberta Miranda, a acreana teve a oportunidade de não apenas conhecer a cantora sertaneja. “Antes, eu enviei uma letra de uma música minha para a Globo, na inscrição para o programa. Acontece que a Roberta [Miranda] ensaiou a música e cantou a minha música: Mulher Vagalume. Não foi eu quem cantou com ela, foi ela quem cantou comigo”, disse, emocionada.
A acreana conseguiu um autógrafo numa foto da cantora que guardava há 40 anos. “E ela autografou, tiramos fotos, foi muito importante para mim”.
Experiência do nascimento com uma parteira
Sarah aproveitou a oportunidade para falar de quando deu à luz ao primeiro filho. Segundo a própria, a experiência foi de aprendizado e marcante em sua vida.
“Em 2020, eu engravidei e fiquei com muito medo de ir ao hospital por conta da pandemia da Covid-19. Foi assim que conheci a Zenaide e ela quem realizou o parto, que foi emocionante. A partir de então, começamos com essa amizade. Fui eu quem escrevi a história dela para o The Wall, então fiquei com muita expectativa desde a primeira etapa de seleção. Foram quatro etapas até sermos selecionadas”.
Sarah ajuda a parteira a cuidar das redes sociais. “Eu quis colocá-la na internet porque, de certa forma, é um local gratuito para divulgarmos nosso trabalho. Para mim, é uma honra poder contar para o mundo sobre a Mestra Zenaide”, comenta, emocionada. “E ela me escolheu para viver com ela essa aventura, e eu disse sim. Meu sentimento é de gratidão a ela e toda equipe da Globo, até ao próprio Luciano: fomos muitíssimo bem tratadas”.
Se você quiser ajudar dona Zenaide, pode acessar a vaquinha por aqui.
Veja trechos da participação da parteira acreana no programa: