Foi com a cultura do Hip Hop e as artes das lutas que o Projeto Periferia Ativa conseguiu chegar às novas gerações acreanas, moradoras de Sena Madureira e da capital, Rio Branco. O ápice das atividades ocorreu em abril deste ano de 2024. Até se chegar a tal público teve muito chão percorrido.
Juntos na realização Alamoju Centro de Cultura e Pesquisa, Centro Acreano de Hip Hop e a Associação FavCrew – pesquisa, esporte e culturas urbanas deram início à organização ainda em dezembro de 2023. Primeiro, mobilizando parcerias e depois, na sensibilização das famílias (tendo em vista a faixa etária foco do projeto) e comunidade onde desenvolveram as atividades.
Tanto esforço da produção valeu a pena. A partir da sensibilização comunitária, o Periferia Ativa obteve como resposta a participação de cerca de 200 pessoas, entre elas crianças, adolescentes e jovens das duas cidades. Outro fator celebrado pela organização foi o envolvimento de artistas e professores atuantes nas comunidades locais como ministradores das oficinas.
O projeto impactou a vida de comunidades dos dois municípios acreanos com recursos de emenda parlamentar que partiu do mandato do deputado estadual Edvaldo Magalhães, sob a gestão do Governo do Estado do Acre/Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM), regulamentado pelo termo de fomento n° 19/2023.
Em Sena Madureira
Na cidade de Sena Madureira, as vagas foram oferecidas para modalidades de Hip Hop (Breaking, Graffiti e MC), Taekwondo e Capoeira. Os encontros foram desenvolvidos em parceria local com a Secretaria Municipal de Cidadania e Assistência Social (SEMCIAS). As atividades ocorreram parte na sede da própria secretaria parceira, outras no Centro do Idoso e na Academia de Saúde do Bairro Bosque.
Leo do Hip Hop, artista sena-madureirense e articulador local do projeto pelo Centro Acreano de Hip Hop, relata que a constância de trabalhos voltados à juventude no município proporcionam alternativas para melhorar a visão de mundo do público jovem. “Melhorar a estrutura, fortalecer os trabalhos que são feitos, tudo isso é muito importante para aqueles jovens que estão na periferia acreditarem que podem tornar os sonhos deles reais”.
A oficina de Graffiti oferecida por Antônio Costa, artista visual e grafiteiro na cidade há mais de 15 anos, teve a participação de cerca de 20 alunos. Ele também destaca a importância de que projetos comunitários tenham continuidade e recebam o devido apoio para o fortalecimento do movimento cultural na cidade.
A adolescente Jessica Paes esteve nas oficinas de Graffiti e Taekwondo, ela afirma ter chegado à turma por meio de incentivo de colegas e que não tinha conhecimento algum de lutas ou habilidades artísticas. “Quando eu entrei na oficina de Taekwondo foi tudo novo pra mim. Eu me desenvolvi muito bem. Agradeço ao Leo que é um ótimo professor e ainda me ajuda bastante”, disse a estudante a respeito de sua evolução nas oficinas.
Na capital
O projeto na capital teve divulgação iniciada em Março deste ano, logo em seguida vieram as inscrições e o início das oficinas. A referência em Rio Branco foi Israel Batista, conhecido artisticamente como Demeno, o breaking boy ministrou oficina de Breaking, ele explica que ações culturais que interagem diretamente com o público jovem, impactam, principalmente, sobre a vida de deles que sofrem violência de Estado (falta de moradia, falta de acesso a serviços públicos, desemprego de familiares…) e tantos outros problemas sociais, como dependência de drogas e exploração sexual.
“Quando estes projetos chegam em alguma comunidade, acabam cumprindo um papel que era de Estado em garantir projetos que além da parte cultural, busquem desenvolver o senso crítico, abordam assuntos que muitas das vezes nem a escola nem a família dialogam, com acesso alimentam a autoestima e constroem uma perspectiva de vida melhor. Muitos jovens se sentem mais fortes e preparados para seguir”, define o artista.
Também falando em nome do Centro Acreano de Hip Hop, Demeno, explica a importância de terem condições de desenvolver projetos como este. “Para o Centro Acreano de Hip Hop é uma satisfação imensa ajudar as comunidades a se organizar, ter jovens adentrando a Cultura e participando do movimento, é magnífico. Eles se descobrem enquanto artistas e ativistas, direcionam a atenção para ações positivas e já sonham em ser multiplicadores. O Hip Hop só cresce e se conecta ainda mais com as comunidades”, finaliza.
Também articulados pelo Centro Acreano de Hip Hop, em Rio Branco foram oferecidas oficinas de Danças Urbanas (Breaking, Popping, Hip Hop Dance), oficinas de MC (Rap), DJ e pintura em Graffiti. A organização firmou parceria com a gestão da escola estadual de Ensino Fundamental Doutor Mário de Oliveira, localizada próximo ao Centro da capital.
A oficina de letras de rap ministrada pelo rapper, DDULE, teve a participação de um público que já tinha habilidades artísticas. “No início a oficina era pra iniciantes, mas como vi que todos já vinham da arte, conheciam um pouco da cultura hip hop e queriam fazer parte, a gente começou a escrever. Sempre nos que reuníamos, trocávamos ideias, experiências e assim a gente escrevia. Meu papel foi falar um pouco do rap da escrita, direcionar um pouco, o resto foi com eles”, relembrou.
Embora o ponto alto do projeto Periferia Ativa tenha sido executado em abril, por demanda da comunidade alguns dos ministrantes das oficinas decidiram dar continuidade, algumas ainda estão em andamento. Em Sena Madureira, ocorrerá um ato simbólico de encerramento em Novembro. Já em Rio Branco, a organização afirma que entra em fase final neste mês de Setembro.
Ficha técnica:
Financiamento: Emenda parlamentar deputado estadual Edvaldo Magalhães, Governo do Estado do Acre e Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM)
Realização: Alamoju Centro de Cultura e Pesquisa, Centro Acreano de Hip Hop e Associação FavCrew – pesquisa, esporte e culturas urbanas
Produção: Produção Pé Rachado e Nathânia Oliveira