O meio artístico acreano cresce a cada segundo, com mais pessoas publicando seus trabalhos todos os dias, e Manoel Ramos de Jesus, formado em música pela Universidade de Brasília (UnB), de 46 anos, mais conhecido como Manoelzinho do Acre, é mais um destes artistas que estão prestes a lançar seu primeiro trabalho, intitulado “Vem pra Amazônia”.
O projeto surgiu por meio de um fundo voltado à cultura, do município de Cruzeiro do Sul, de onde Manoelzinho é natural, e também com apoio da lei Paulo Gustavo, contando com a participação da banda Swing da Mata e do secretário municipal de cultura, Aldemir Maciel Filho.
O clipe aborda as vivências de diversos povos amazônicos diferentes, como ribeirinhos, e grupos pertencentes aos povos originários. Segundo Manoelzinho, esse é o intuito do material: mostrar a Amazônia como ela é de fato, fazendo assim um convite para que mais pessoas se interessem em conhecê-la.
“Comecei a escrever durante a pandemia; hoje, já são mais de 100 composições, entre elas tem ‘Vem pra Amazônia’ que lançamos gora, e ela é um convite para que todos os povos venham conhecer a Amazônia, nosso Acre, o Vale do Juruá”, conta o autor, em entrevista exclusiva. Ele ainda diz que o processo de escrita durante o período pandêmico foi uma espécie de refúgio, com muitas das composições deste período tendo sido feitas diretamente do Rio Crôa.
Entretanto, as vindas de Manoelzinho à capital do estado não são para divulgar o seu trabalho artístico, mas para um tratamento de saúde. De acordo com o cantor, seus sistema imunológico apresenta algumas falhas, que fazem com que o próprio corpo não reconheça parte dos órgãos, levando ao desenvolvimento de outras doenças.
“Eu tenho um problema de longa data, cerca de 25 anos, não sei explicar em termos técnicos, mas minha imunidade é muito alta, ela enxerga meus órgãos como estranhos então acaba atacando eles”, relata.
Atualmente, Manoelzinho está com seu tratamento no intestino pausado, no entanto, o governo do Estado já se comprometeu a se ajudar.
“A saúde impactou muito na minha carreira, sim. Deixei de viajar para diversos lugares por conta disso, do meu tratamento, mas a gente não pode parar, se um caminho se fecha ali, temos sempre que buscar outra forma. Lá fora tem muita gente que ia me ouvir, mas aqui dentro do estado tem também, e hoje com a internet eu posso chegar no mundo inteiro sem sair do Acre, só preciso trabalhar pra isso”, relata Manoelzinho.
O autor frisa que seu principal objetivo é conseguir deixar um legado para a cultura acreana, ao mesmo tempo em que a celebra, e para isso, além de sua música e videoclipe de “Vem pra Amazônia”, ele já tem sinal verde para a produção de outra obra audiovisual, intitulada “O Samba do Acre”, desta vez em parceria com o governo do Estado. Em conjunto com as músicas já citadas, que devem ser lançadas ainda em 2024, outras sete já se encontram preparadas para a gravação, que juntas deverão formar um álbum.
“Também vai ser um tributo ao Acre. Vou falar de mais lugares nessa música, falar de grandes personalidades como Chico Mendes, de grandes artistas como João Donato”, revela.
Filho de peixe, peixinho é
A arte na família não começou nesta geração, vindo antes dela, com o pai do compositor, Antônio Ferreira, que desde os 12 anos já tocava em bares noturnos para ganhar seus trocados.
Manoelzinho começou pouco mais cedo, aos 10, já aos 15 pode vivenciar seus primeiros festivais, sendo neste período em que decidiu de fato ter a música como seu caminho.
Durante sua trajetória, dois períodos ainda se destacam, sendo músico na banda de forró acreana Arregaça-aê, e seus projetos com aulas, sendo uma filial da Kat Music, antiga escola de música da capital acreana, em Cruzeiro do Sul, e a abertura de um projeto próprio, que teve as atividades encerradas devido ao período pandêmico.
A expressão artística como modo de vida não parou em Manoelzinho, já que sua filha também tem forte ligação com as artes. “Logo no início, quando nova, dei um teclado pra ela, depois um violão e um contrabaixo, ela também sabe cantar um pouco”, conta ele.
Porém, o caminho da garota não foi o mesmo do pai, e findou por optar pela arte do desenho, utilizando as redes sociais para divulgar seu trabalho, por meio do perfil @tenartist no Instagram.
Mesmo com seu projeto pessoal apenas no início, é possível dizer que Manoel Ramos de Jesus já deixou sua marca na música acreana, e tem um legado para chamar de seu.
“Com os ensinamentos nas escolas de música, em 20 anos, cerca de quatro mil pessoas estudaram comigo e um parceiro de Cruzeiro do Sul, e de certa forma também se tornaram filhos né, pelo ensino dos instrumentos”, encerra o cantor e compositor acreano sua conjectura sobre a contribuição cultural deixada para o estado.
Conheça a música: