Em quase duas horas de interrogatório, o ex-chefe da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro Rivaldo Barbosa de Araújo se defendeu das acusações de ter participado do crime que levou Marielle Franco e Anderson Gomes à morte, em 2018. O delegado criticou as invetsigações que levaram à sua prisão, em março deste ano, assim como as alegações de ter obstruído ou dado suporte para que o assassinato da vereadora ocorresse.
Em delação premiada, Ronnie Lessa, assassino confesso de Marielle, afirmou que o delegado teria usado seu poder de então chefe da Polícia Civil do Rio para proteger os mandantes do assassinato e garantir que o crime não fosse solucionado. O deputado federal Chiquinho Brazão e o conselho do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro, Domingos Brazão, são apontados também como mandantes.
No depoimento de Rivaldo, que começou nesta quinta-feira (24/10), o delegado chorou, se emocionou, se disse injustiçado e colocou Marielle como uma amiga. Ele narrou que a vereadora era sua amiga, que o ajudou a subir na carreira, que “sorria com dentes brancos que contrastavam com sua pele morena” quando conversava. Ele negou veementemente conhecer Lessa ou os irmãos Brazão, apontados pelo executor como mandantes do crime.
“Eu não mato nem uma formiga, vou matar uma pessoa? Marielle me ajudou na vida. Só cheguei aqui porque ela me ajudou. Jamais faria nada contra ela”, disse o delegado no depoimento.
Rivaldo é o quarto réu a ser interrogado pelo gabinete do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na ação penal em que Chiquinho, Domingos, Rivaldo e Ronald Paulo são acusados dos crimes de homicídio qualificado no caso de Marielle e Anderson e por tentativa de homicídio no caso de Fernanda Chaves, assessora da vereadora que estava no carro no momento do ataque.
Além disso, Robson Calixto Fonseca, conhecido como Peixe, responde, junto com os outros, por organização criminosa. Todos foram tornados réus pela Primeira Turma do STF sob a suspeita de planejar o assassinato da vereadora Marielle Franco em 2018.
Transferência
Rivaldo Barbosa também reclamou de sua transferência do presídio de Brasília para a penitenciária federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Disse que todo esse trâmite o atrapalhou e que não era necessário.
As investigações da Polícia Federal apontam que o delegado Rivaldo usou de sua autoridade como então chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro “para oferecer a garantia necessária aos autores intelectuais do crime de que todos permaneceriam impunes”.
Rivaldo Barbosa foi acusado após a delação premiada de Ronnie Lessa, no ano passado, em que o autor do crime afirma que o delegado teria garantido aos irmãos Brazão que eles ficariam impunes.
Segundo relatou Lessa, os irmãos incluíam Rivaldo Barbosa “claramente como parte integrante do plano”. Lessa narra situação em que Macalé, interlocutor dos mandantes do crime, faz o seguinte comentário:
– Pô, padrinho. Se eu soubesse que o sr. tinha esse contato, eu não tinha nem sido preso. Foi a equipe do Rivaldo que me prendeu…
– Pô, negão. Tu não se comunica, cara. O Rivaldo é nosso. Ele segura tudo lá, sem aval dele ninguém faz nada.
Por: Metrópoles