Paulo Cupertino Matias, preso em 2022 pelo assassinato do ator Rafael Miguel e dos pais dele — crime que aconteceu em 2019 na zona sul paulistana –, escreveu uma carta de nove páginas, de dentro da cadeia, pedindo para ser solto. Ele remeteu o manuscrito ao Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), em junho do ano passado, “clamando” por seus direitos.
Segundo a carta, obtida pelo Metrópoles, Cupertino pede liberdade, afirmando ser inocente e que seus direitos “estão sendo negados” com “uma narrativa e fatos que não condiz [sic] com a verdade”.
Ele será submetido a um júri popular, no próximo dia 10 de outubro, no Fórum da Barra Funda, na zona oeste da capital paulista.
“Massacrado e perseguido”
Dirigindo-se ao presidente do TJSP, o acusado inicia a carta mencionando o Pacto de São José da Costa Rica, ao qual o Brasil aderiu há 32 anos. Nele são assegurados, dentre outros, os direitos à liberdade e a um julgamento justo.
“Excelência eu me encontro preso desde 16 de maio de 2022 e bem antes da minha prisão venho sendo acusado, massacrado e perseguido de formas e informações totalmente desprovidas [de verdade] e mentirosas.”
Cupertino ficou foragido da Justiça por quase três anos. Durante este período, fez uma identidade falsa em Jataizinho, cidade do interior paranaense, a cerca de 290 km da capital Curitiba, com o nome Manuel Machado da Silva.
Na carta, Cupertino afirma que as vítimas foram mortas “por perfurações de arma de fogo”, porém nega ter sido o autor dos disparos, alegando não haver provas disso.
Os relatos, segue o réu, “supõe ou achão [sic] que eu efetuei os disparos […] só ouvirão [sic] os tiros ecelencia [sic]”, argumenta Cupertino, se desculpando por não se expressar ou escrever corretamente.
Após a introdução, Cupertino afirma que irá relatar tudo “ou quase” tudo o que aconteceu e “pedir providências”.
Ele destaca que o sigilo do caso não foi respeitado pelo fato de informações do processo terem sido veiculados pela imprensa, em rede nacional. Isso, segue, contamina o processo, “formando uma negativa massiva contra a minha defesa e provas da minha inocência”.
“O vírus da mídia”
Defendendo ser inocente pelo triplo homicídio, Cupertino afirma que a exposição dele irá infectar a decisão dos jurados “com o vírus da mídia”.
“Assim contrariando todos os direitos e deveres do estado de direito, já estarei condenado injustamente e bem antes de lá estar [júri popular], estarei condenado, sem chance de defesa. Uma mentira contada dez vezes vale mais que mil verdades”, argumenta.
Ele ainda afirma se sentir como “em tempos medievais” nos quais o acusado “ia direto à forca, sem ter chance de seus direitos analisados”. O acusado acrescenta que ficou foragido por temer pela própria vida e por também ter “muito medo da polícia”.
Cupertino conclui a argumentação afirmando desconhecer o motivo pelo qual é acusado. “Te asseguro, nunca antes em minha vida tive o conhecimento das suas existências [vítimas]”.
“Peço a vossa ecelencia [sic] que me conceda o direito e minha liberdade de poder ter os mesmos direitos de quem acusa e meios e formas legais e asseguradas para provar minha inocência e ser feita a verdadeira e única justiça.”
Ele escreve, ainda, para que o magistrado “na forma da lei” remeta o pedido para uma “instância superior”, caso o pedido de habeas corpus fosse negado.
O crime
De acordo com denúncia do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP), Paulo Cupertino matou o ator Rafael Miguel, que na época tinha 22 anos, o pai dele João Alcisio Miguel, de 52, e a mãe, Miriam Selma Miguel, 50, porque não aceitava o namoro do jovem com a filha dele, Isabela Tibcherani, na época com 18 anos.
Os assassinatos ocorreram em Pedreira, zona sul paulista. Segundo a denúncia, Cupertino disparou 13 vezes contra as vítimas.
Paulo Cupertino foi acusado de triplo homicídio qualificado. Depois do crime, fugiu para o Mato Grosso do Sul e, em seguida, para o Paraguai. Ele foi preso na mesma região onde o crime ocorreu, escondido em um hotel.
Filha de Cupertino
Isabela Tibcherani, filha de Paulo Cupertino, estava com o então namorado no momento do crime. Na época, a jovem revelou que o pai era possessivo e odiava mulheres. Além disso, Isabela se disse surpresa por não ter sido também atingida pelos tiros.
“Ainda não consigo acreditar, mas estou me esforçando. Juro que o máximo que pensei que fosse possível era meu pai sair na mão [briga de socos]. Mas quando eles [Rafael e os pais] chegaram, ele me mandou entrar e começou a atirar”, declarou a namorada de Rafael em entrevista em 2019.
Por Metrópoles