Em um mês, seis mulheres afirmaram publicamente ter sofrido assédio sexual do ex-ministro dos Direitos Humanos Silvio Almeida. Além da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, uma advogada e quatro ex-alunas de Almeida deram seus relatos em entrevistas à coluna e a outros veículos desde 5 de setembro, quando a coluna revelou que o então ministro era alvo de denúncias de suposto assédio sexual, entre elas contra Anielle. A Polícia Federal (PF) e o Ministério Público do Trabalho abriram inquéritos para apurar o caso. Silvio Almeida negou acusações.
Anielle Franco — “Fui vítima de importunação sexual”
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, confirmou em depoimento à PF no último dia 3 a reportagem da coluna publicada em 5 de setembro, sobre ter sido assediada sexualmente por Silvio Almeida. Almeida supostamente a abordava de modo inadequado desde o fim de 2022, durante o governo de transição. Depois, importunou a ministra fisicamente.
“Ele [Silvio Almeida] era bem desrespeitoso. […] A gente nunca teve nenhum tipo de intimidade. […] Durou alguns meses, assim, mais de ano, na verdade. Começa com falas e cantadas mal postas, eu diria. E vai escalando para um desrespeito pelo qual eu também não esperava. Até situações que mulher nenhuma precisa passar, merece passar ou deveria passar”, afirmou a ministra recentemente em outra entrevista, confirmando que foi tocada nas partes íntimas por Almeida durante uma reunião do governo federal em maio de 2023.
Isabel Rodrigues — “Colocou as mãos nas minhas partes íntimas”
A advogada e professora Isabel Rodrigues publicou um vídeo em seu Instagram em que disse ter sofrido assédio sexual de Almeida em 2019. Segundo o relato, o então advogado colocou a mão em suas partes íntimas durante um almoço em São Paulo. Na ocasião, Rodrigues, Almeida e um grupo almoçavam depois de um curso dado por Silvio Almeida.
“Eu sentei do lado do Silvio. Ele estava do lado direito, eu do lado esquerdo. Eu estava de saia. Ele levantou a saia e colocou a mão nas minhas partes íntimas, com vontade. Eu fiquei estarrecida, fiquei com vergonha das pessoas, porque é assim que as vítimas se sentem”.
Em entrevista à coluna, Rodrigues disse que decidiu trazer o caso a público depois que Almeida desqualificou suas supostas vítimas. “Ele [Silvio Almeida] as chamou de mentirosas e disse que fazem parte de um grupo. Não pude me calar”, afirmou.
Assim como Anielle Franco, Isabel Rodrigues detalhou as supostas violências que sofreu de Almeida em um depoimento à PF.
Ex-aluna: “Me puxou e beijou”
Uma ex-aluna de Silvio Almeida na Universidade São Judas disse à coluna, sob a condição de anonimato, que foi assediada pelo então professor em 2007 na faculdade. “A gente estava conversando quando ele [Silvio Almeida] chegou. Eu não me sentia muito à vontade com a presença dele, então dei um passo para trás para evitar cumprimentá-lo. Ele me olhou e falou assim: ‘Você não vai me dar um beijo com essa sua boca gostosa, não?’. Aí eu travei e ele me puxou, me deu um beijo no canto da boca, quase meio lábio. Entrei em choque e saí da roda de pessoas. Todos os outros continuaram”, afirmou.
Ex-aluna: “Colocou as mãos nas minhas pernas”
Outra ex-aluna de Almeida na São Judas falou à coluna, também sem ser identificada por temer represálias. Desta vez, o suposto assédio aconteceu em 2017, em um café dentro da faculdade. “Eu e Silvio Almeida estávamos no café da São Judas, conversando sobre o projeto de iniciação científica, quando ele colocou as duas mãos nas minhas pernas, com vontade, e foi subindo o máximo que conseguiu, enquanto falava normalmente. Eu estava de saia. Me afastei, fiquei muito aflita. Fui embora, nem assisti à aula naquele dia e pensei em largar a faculdade”, afirmou.
Ex-aluna: “Fiquei com medo de ele me prejudicar na monografia”
A jornalista Laís Ribeiro entrevistou, no mês passado, uma ex-aluna de Almeida que disse ter sofrido assédio do então professor em 2009, quando Silvio Almeida integrava a banca de avaliação de sua monografia e lhe telefonou várias vezes. “Acho que a gente devia sair para conversar sobre o seu tema porque eu não quero que você saia prejudicada”, afirmou Almeida na ocasião, segundo a estudante, que não sabe como o professor obteve seu contato telefônico. “Fiquei com medo de ele realmente me prejudicar na monografia”, disse a mulher.
Ex-aluna: “Continuou se aproximando ao ponto de chegar muito próximo”
Em entrevista à repórter Sonia Bridi no último dia 7, uma ex-aluna de Almeida que também não quis ter a identidade exposta disse que o então professor a havia convidado para sair algumas vezes. E relatou o seguinte episódio quando foi a última a entregar uma prova:
“Ele [Silvio Almeida] veio em minha direção. Eu achei que fosse para pegar a prova. Mas ele continuou se aproximando ao ponto de chegar muito próximo, e eu fui dando os passos para trás. Só que eu já estava bem próxima da parede, porque eu sentei nas últimas fileiras. […] Era menos de um palmo. Nariz com nariz. Três, quatro dedos. Chegou muito próximo ao ponto de, em algum momento, a cabeça ir um pouco mais para trás para afastar”.
Por Metrópoles