“Não é apenas uma forma de homenagear, de botar na pele um desenho que represente ele, mas é pra que não esqueça, para eu estar sempre olhando para ele”. Foi assim que o fotógrafo Diego Gurgel homenageou o amigo e também fotógrafo Marcos Vicentti, o Marcão, falecido no último dia 18 de outubro, ao tatuar o amigo no antebraço.
Ainda segundo Gurgel, o local da tatuagem foi meticulosamente pensado: é que, na hora em que o profissional segura a câmera, sempre olha para o próprio antebraço.
“É uma marca não só na pele, mas na memória, no coração, porque o Marcão – e isso é de conhecimento de todos – foi um grande profissional, um grande fotógrafo, um grande jornalista”, reitera. Quem convivia diariamente, no entanto, tinha ensinamentos ainda mais profundos. “Ele pregava a humildade, a paz, a serenidade, tranquilidade. O Marcão estava numa fase muito zen, muito espiritualizada, e nos ensinou muito. Ele amava viver, e ainda mais com essa conexão com a natureza que ele teve muito mais fortemente agora, no finalzinho, na reta final”, acrescenta.
Diego informou que, antes de adoecer, Vicentti se preparava para ir ao Monte Roraima, uma tríplice fronteira no estado de mesmo nome entre Brasil, Venezuela e Guiana. “Além disso, o Marcão amava borboletas, porque representa leveza, liberdade. Como ele sempre se fez presente nas trilhas, fazia essa analogia das borboletas com a vida”.
Marcão usava câmeras da marca Canon, e Diego Gurgel, no entanto, usa Nikon. A diferença das marcas era uma brincadeira entre eles, e Diego segue com a brincadeira. “Só o Marcão mesmo pra me fazer tatuar na minha pele uma Canon, mas ele merece”, comenta Diego, com bom humor.
Luto
Gurgel reitera que, apesar de ter ideia do luto, a morte de Marcão trouxe consciência de que as pessoas têm de viver. “A gente tem que homenagear a forma como ele viveu continuando a viver, tem que botar em prática os ensinamentos que ele pregava e não ficar pra baixo. A gente segue pra frente: a saudade fica, quando estou só e olho para o desenho eu sinto, mas seguimos em frente”, diz Diego.
A morte de Marcos Vicentti, aos 56 anos, pegou todo o jornalismo acreano de surpresa. O fotógrafo era premiado nacionalmente e deixa a imprensa num luto que, embora parece eterno, acaba por se transformar em vida.