“O Rio Acre gera R$ 48 milhões por mês. Algum outro setor da economia gera tamanho montante de recursos financeiros para a economia local? Eu desafio. Saber que, em breve, esta bacia hidrográfica será transformará numa bacia leiteira, sem nenhuma preservação ambiental, é simplesmente condenar à morte a população urbana”. As palavras são do professor de geografia Claudemir Mesquita, um grande estudioso sobre o Rio Acre, durante audiência pública realizada na Assembleia Legislativa do Acre (Aleac), nesta segunda-feira, 21. O encontro foi proposto pelo deputado Afonso Fernandes, do PL.
Ainda durante o discurso, Mesquita pergunta qual é o “plano B” para que a população de Rio Branco continue viva, mencionando que, no subsolo, não existe água suficiente para suprir o consumo da cidade daqui a 200 anos.
“O plano B seria a bacia do Riozinho do Rola? Essa ainda não recebeu nenhuma indicação dos vereadores para que seja criada, pelo menos, uma área de preservação ambiental. O que se discute sobre a bacia do Riozinho do Rola é que ela é a maior causadora das inundações na cidade de Rio Branco. Realmente é e continuará sendo se o avanço brutal do desmatamento não for contido através da criação de uma APA, [Área de Proteção Ambiental]”, diz Mesquita.
Ainda de acordo com o geógrafo, se a bacia do Riozinho não for protegida, haverá aumento das enxurradas, rompimento de meandros, quebradeira de margens e descontrole dos escoamentos fluviais do Rio Acre. Além disso, Claudemir afirma que, desde que a Reserva Chico Mendes foi criada, ainda hoje, não se conhece a extensão dos danos ambientais e nem o tamanho do rebanho bovino e animal na reserva. “Possivelmente, esses estudos terão início em 2030. E sabe Deus quando será conhecido o tamanho desse buraco, enquanto os gestores dormem de bolso cheio e sono reparador. No meu entender, a nossa única bacia hidrográfica destinada ao plano B e que poderá salvar a vida das populações urbanas de Rio Branco, Quinari e Capixaba, é a bacia do rio Iquiri, se um dia for recuperada e preservada através de um consórcio envolvendo os três municípios na região”.
O Rio Acre, de acordo com Mesquita, é um rio trinacional, e ele mesmo diz não se sentir à altura de fazer uma apreciação crítica sobre a obra ambiental natural que, em tese, deveria ser cuidada pelas populações dos países Peru, Bolívia e Brasil. “Mas quando ele [o Rio Acre] ingenuamente entra no Brasil, porque, se um rio soubesse aonde ir certamente não passaria por uma cidade, ele [ o rio] é recepcionado com 1,9 mil metros cúbicos de esgotos da cidade de Iñapari, e Assim Brasil: esses são os votos de boas-vindas que o poder público lhe dá.
Ainda de acordo com Mesquita, se o rebanho bovino permanecer crescendo a uma taxa de 5% ao ano, em 15 anos, o volume de esgoto e água química irá superar o volume de água boa, saudável para beber. “Então, lhe pergunto, que rio orgânico resistirá a essa bomba atômica? Que homens vão se alimentar dessa água? Olhe bem, vamos deixar aqui nosso maior bem, filhos e netos. Esse rio não comporta passageiros, porque somos todos tripulantes, ou seja, bebemos da mesma água. Mais de 120 mil hectares de mata ciliar do Rio Acre já foram desmatadas: assistimos o barranco se dissolver por falta de proteção e o rio segue descuidado, aterrado e cheio do nosso desleixo”.
Ao final, o geógrafo manda ainda mais uma forte mensagem: o coeficiente de água já é superior a 40% há 30 anos. “Ou seja, as nascentes e fontes d’água estão desaparecendo do texto e do contexto desse rio. As cidades crescem 5% ao ano e o rio define 8 centímetros na lama da água por ano. E como vamos fechar essa equação? Nossos filhos esperam encontrar um rio melhor, uma vez que temos nas mãos o poder de legislar, educar o povo para garantir a preservação de Deus nos lábios das crianças”, finalizou.