Um modelo econômico onde não existe a figura do patrão e empregado e que prevalece a inclusão social, a coletividade, o respeito à diversidade e ao meio ambiente. Assim é a economia solidária, uma forma de produção, consumo e distribuição de renda com foco no ser humano, ao invés do capital.
Em Rio Branco, existem cerca de 480 empreendimentos desse tipo, que movimentam a economia local por meio de negócios ligados à alimentação, artesanato, jardinagem, entretenimento, entre outros. Os coletivos realizam feiras semanais na Praça da Bandeira, no Centro, e também participam de grandes eventos na capital e no interior, como a Expoacre, Expoacre Juruá e festivais do Açaí e do Abacaxi, em Feijó e Tarauacá, respectivamente.
A previsão é que esses pequenos negócios movimentem, apenas em 2024, aproximadamente R$ 2,5 milhões, segundo o Fórum Acreano de Economia Solidária, coordenado pelo empreendedor Carlos Taborga.
“A economia solidária é uma forma diferente de fazer negócios, onde prevalece a democracia. Nos coletivos, é um por todos e todos por um. Esse é o nosso maior papel: levar inclusão social, no sentido de que todos podem participar. Nós não trabalhamos o indivíduo, mas, sim, o coletivo”, explica Taborga.
Ainda de acordo com o presidente do fórum, a economia solidária tem origem nos primórdios da humanidade e, na Amazônia, é, culturalmente, praticada pelos povos indígenas desde antes do contato com outras civilizações.
“Os indígenas, por exemplo, fazem economia solidária por meio das trocas de produtos sem o uso da moeda. Porque a economia solidária também pode ser uma forma de escambo. Tanto que nós temos os bancos de trocas que não vislumbram o valor, mas sim a necessidade do objeto. Se o meu produto vale R$ 1 e o seu vale R$ 100, mas você quer trocar por aquele de R$ 1, não tem problema, nós vamos trocar”.
Taborga reforça que a ideia da economia solidária é garantir melhor perspectiva de vida às pessoas, em especial as que vivem à margem do processo socioeconômico. “Mais de 90% dos empreendedores são mulheres e 70% possuem acima de 60 anos. São pessoas que, geralmente, não têm mais oportunidade de trabalho, devido a pouca escolaridade e a idade avançada, e que encontram na economia solidária uma alternativa”.
Empoderamento econômico
A empreendedora Fátima Lima atua no ramo da economia solidária desde 2006, quando a rede ainda dava seus primeiros passos na capital acreana. Ela começou vendendo artesanato e, hoje, comercializa hambúrguer com o filho, Felipe Richard, e a nora. Ela afirma que boa parte da renda familiar vem de seu pequeno negócio.
“Minha entrada na economia solidária se deu por necessidade de cuidar da família. De lá para cá, tudo melhorou muito. A gente aprendeu coisas que não sabia, fizemos vários cursos e capacitações e hoje ganhamos a vida com esse ramo. Como todo trabalho, tem suas dificuldades, mas, se houver foco, a gente consegue fazer dinheiro”.
As formações que Fátima e os demais empreendedores participam são outro elemento fundamental na economia solidária e garantem empoderamento econômico e maior autonomia aos comerciantes.
“Não são apenas as feiras. É também formação e educação, ou seja, a economia solidária é transversal. A gente precisa ter uma sociedade melhor e esse modelo proporciona isso”, reforça o presidente Carlos Taborga.
A “grande mãe” da economia solidária
Uma rede de apoio, formada pela prefeitura de Rio Branco, governo do Acre e, principalmente, pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), foi fundamental para alavancar esses pequenos negócios na capital. Este último órgão é descrito por Taborga como “a grande mãe” da economia solidária.
O Sebrae apoia esses empreendimentos desde o início da estruturação da rede de economia solidária no Acre, por volta de 2003, e, hoje, se firma como o parceiro número um desses pequenos negócios.
“O Sebrae é aquela instituição que, na hora do sufoco, está presente conosco. Esse apoio passa desde a capacitação dos empreendedores até cessão de estrutura para fazermos nossas feiras. É o amigo de todas as horas, que a gente sabe onde ele está e, na hora da precisão, sempre se faz presente. Nos ajuda também quando precisamos fazer eventos como palestras, seminários, conferências e reuniões”, explica o presidente do fórum.
A empreendedora Fátima Lima confirma a importância da parceria. “Sem o apoio do Sebrae a gente conseguiria pouca coisa. Lembro de uma feira que a gente não tinha sequer uma tenda e o Sebrae, muito rapidamente, alugou uma para nós. Ou seja, é um apoio mais que fundamental”, afirma a empresária, que conseguiu financiar um carro com parte dos rendimentos proporcionados pelo seu pequeno negócio familiar.
Questionada se valeu a pena empreender via economia solidária, Fátima respondeu: “Vale! Senão a gente não tava lá. É como o meu filho sempre fala: ‘mãe, se não valesse a pena esse povo não tava aqui’. Tem dificuldade? Tem. Mas vale a pena sim”.