O pesquisador Irving Foster Brown, da Universidade Federal do Acre (Ufac), fez verdadeiros alertas na Assembleia Legislativa do Acre (Aleac), durante audiência pública, na última segunda-feira, 21, que discutiu a seca extrema do Rio Acre e mudanças climáticas. Na ocasião, Brown reforçou que, segundo a Universidade de Chicago, atualmente, o Acre é uma das áreas mais impactadas do mundo com a poluição.
De acordo com o pesquisador, os resultados da universidade estadunidense não são deste ano, mas referentes aos últimos 20 anos e, além disso, apontam algo ainda mais assustador: os acreanos perderam entre dois e quatro anos de expectativa de vida.
“Faço a pergunta, quanto vale um ano da sua vida? Se alguém tenta tirar um ano da sua vida, como você se sente? Que tal dois anos? Agora, multiplica isso pelo número de pessoas que nós temos na região, quase um milhão. Então, se vale um ano, é uma coisa muito importante, imagine um milhão de anos. Eu não queria aumentar medo, porque, às vezes, sou chamado de doutor apocalipse”, reitera o pesquisador.
Vale lembrar que, no último dia 23 de setembro, uma segunda-feira, os níveis de qualidade do ar chegaram a 40 vezes mais que o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Na ocasião, segundo dados da plataforma internacional IQAir, que monitora a qualidade do ar globalmente, a concentração de PM 2,5 (partículas finas com diâmetro inferior a 2,5 micrômetros) atingiu alarmantes 605 microgramas por metro cúbico (µg/m³). O limite recomendado pela OMS, que é de 15 µg/m³.
Foster disse que gostaria que a “raiva causada nas pessoas fosse controlada e usada para fazer mudanças. “Naturalmente, podemos ter impactos enormes. E se nós olharmos centenas de anos atrás, essa parte da Amazônia sofreu outros mega El Ninos, que acabaram com as civilizações indígenas. Os que sobreviveram resistiram. Todo mundo aqui é descendente de pessoas que sofreram e sobreviveram a eventos catastróficos no clima. Precisamos usar esse espírito para lidar com as coisas que nós temos agora”, refletiu
Foster reforçou que chegou ao estado em 1988, como um estadunidense querendo conhecer um pouco do que era a Amazônia. “A concentração de CO2 era de 350 partes por milhão. Eu estou aqui, depois de 32 anos no Acre, morando, e hoje é 420, aumentou 70. O potencial de ter um aumento de mais 70 ou mais ppm é muito grande. Isso significa que os extremos que a gente está vendo vão ficar mais severos e mais frequentes”.
O processo, no entanto, pode ser modificado, principalmente na relação do homem com a floresta. “O desmatamento, no nível regional, na parte leste da Amazônia, afeta as chuvas aqui. E afeta as chuvas principalmente na época seca. Estamos vendo um prolongamento, nos últimos 30 anos, do período de seca. É uma coisa que está dentro do nosso controle, mas ainda não controlamos. O que acontece hoje é porque deixamos acontecer”.
Apesar dos apontamentos difíceis, Foster finalizou com uma pontada de esperança: “Nós podemos ter uma virada. Uma etapa fomenta outra, nós temos uma cadeia de efeitos que podemos mudar, como cuidar das matas ciliares do Rio Acre. Este é o nosso desafio”, finalizou