Em entrevista exclusiva, Luyara Franco contou que o que parecia uma pergunta simples de ser respondida se tornou um dos momentos mais tristes e marcantes da vida dela após a morte da mãe Marielle Franco. Enquanto estava no aeroporto, se preparando para realizar a primeira viagem desacompanhada, a jovem, que ainda estava processando a morte de Marielle, precisou dar o telefone de algum familiar em caso de emergência. Sem pensar duas vezes, ela deu o da vereadora. Segundos depois, a ficha caiu de que a mãe não estava mais aqui.
— A primeira vez que eu viajei no aeroporto sozinha me pediram um contato de emergência e no automático eu falei o número do telefone dela. Quando eu terminei o número, eu percebi naquele instante o que tinha feito e aí eu segurei o choro. Pedi pra falar outro telefone e segui viagem, mas foi muito doloroso. É uma das lembranças mais marcantes que tenho — lembra.
Mais do que a perda de Marielle, Luyara lamenta os momentos que não conseguiu viver ao lado dela. A jovem, que é formada em Educação Física, conta que o início da faculdade não foi da maneira que esperava. Aos 19 anos, um mês depois da vereadora ser assassinada, Luyara precisou lidar com comentários de outros estudantes afirmando que ela teria “se beneficiado” porque estava “famosa”.
— Eu acho que eu perdi muita coisa. Perdi, sobretudo, as experiências de uma jovem normal. Eu tinha acabado de fazer 19 anos quando a minha mãe foi assassinada e as minhas aulas da faculdade começaram um mês depois do crime. Naquele momento difícil eu ainda tive que lidar com pessoas dizendo que eu tinha me beneficiado porque entrei na faculdade “famosa”, que agora eu estava cheia de dinheiro — diz.
A todo tempo de mãos dadas com o avô Antônio Francisco, a jovem ouviu, emocionada, na última quinta-feira, a sentença que condenou Ronnie Lessa e Élcio Queiroz pelo crime. Ao longo dos dois dias de julgamento, a filha de Marielle precisou ser amparada por familiares e amigos, principalmente quando viu a sua foto entre as buscas de Lessa antes do crime.
Para ela, ser forte nesses momentos tem sido um dos maiores desafios dos últimos anos. A jovem destaca que a repercussão do caso fez com que não tivesse tantos momentos sozinha para ficar mais tranquila e processar os seus sentimentos. Luyara pontua que o apoio familiar é essencial para conviver com o luto.
— O luto não foi só meu, foi um luto mundial. Ter que ficar revivendo isso ano após ano é sempre muito difícil. Toda pessoa que passa por algum trauma como esse, e não tem essa visibilidade toda, acho que tem aqueles momentos que você consegue ficar mais tranquila e não precisar ser tão forte, né? Eu não tive isso. Foram quase sete anos precisando ficar me expondo em muitos momentos, então foi muito necessária essa fortaleza construída pela minha família — alega.
Por Extra