Os rio-branquenses ficaram chocados, neste fim de semana, com o caso do filho que matou a própria mãe no Conjunto Esperança. O homem, de 23 anos, esfaqueou a genitora, saiu de casa, voltou como se a tivesse apenas encontrado e dissimulou a situação diante dos presentes.
Para entender o que deve acontecer em uma mente que faz um ato tão triste quanto este, A GAZETA conversou com o psicólogo clínico Tiago Martins, que reforçou que, geralmente, quem comete um crime dessa magnitude tem um quadro psiquiátrico estabelecido e não diagnosticado, ou até diagnosticado, como um quadro de esquizofrenia, por exemplo.
“Quer dizer que todo esquizofrênico pode cometer esse crime? Não, o que eu estou querendo dizer é que pode ser que quem cometa esse tipo de crime tem uma predisposição ou um quadro psiquiátrico já estabelecido, é claro que geralmente esse tipo de crime é multifatorial, porque abusos na família, família disfuncional, isso tudo pode impactar na dinâmica do cometimento desse tipo de crime, uma não boa relação com a mãe ou com o pai, uma referência de resolução de conflito só via violência, então são alguns contextos aí que dão contorno para esse tipo de crime, que é o matricídio”, explicou Tiago.
Na decisão que converteu a prisão em flagrante de Eduardo da Costa Azevedo em preventiva, a juíza Carolina Álvares ressaltou que não há indícios de incapacidade mental no acusado, negando o pedido de insanidade mental feito pela defesa. O acusado teria admitido o crime alegando problemas de relacionamento com a mãe, supostamente causados por casos de agressões anteriores da vítima contra ele.
O psicólogo reiterou ainda que – em casos como este – não é uma responsabilidade somente da mãe. “Porque senão fica parecendo que a mãe fez alguma coisa que gerou a conduta criminosa do filho. Um lar disfuncional, inclusive com a participação às vezes do pai, porque o pai deixa o filho contra a mãe, acaba gerando esse tipo de conflito, uma sensação de não pertencimento por parte ali do criminoso, um seio familiar pautado em muita pressão, em muito estresse. Esses são alguns contornos com relação a essa dinâmica, mas não é só sobre a relação mãe e filho, porque às vezes a dinâmica do pai com o filho e com a mãe favorece também esse tipo de crime”, disse.
Sinais a considerar
Tiago comentou ainda que – embora existam algum sinais – não é algo como uma “receita de bolo”, mas há de se avaliar caso a caso. “A literatura não é muito vasta porque os crimes intrafamiliares são pouco investigados, acompanhados e estudados, mas, no geral, eles [estudiosos] respeitam muito a conduta do adolescente dentro de casa. São os acompanhamentos que a gente precisa fazer para saber se essa pessoa não tem algum tipo de distúrbio de quadro psiquiátrico estabelecido, são as próprias condutas dentro de casa da família: como é que essa família se porta na resolução de conflitos, como é que é que se estabelece um diálogo dentro de casa, se a comunicação é não violenta, então é uma série de fatores”
Quanto ao papel da sociedade e da família no desenvolvimento deste tipo de violência, o psicólogo enfatiza que cabe à sociedade a reflexão quanto aos programas governamentais que fazem um acolhimento de famílias disfuncionais, além da renda e o suporte emocional dado aos núcleos familiares disfuncionais. “Além da identificação de conflitos, seja na escola, do contexto social, de uma série de coisas que poderiam evitar esse tipo de situação, dentro da medida do possível, porque às vezes você tem um lodo funcional ali que não tem como ninguém intervir, porque já é da dinâmica da família, a gente tem que entender. Mas há a necessidade de ver que o crime de violência intrafamiliar ocorre por existir uma dinâmica de violência que é naturalizada”.
O psicólogo ainda relembrou que, atualmente, ainda se ouve muito a frase “apanhei, mas nunca aconteceu nada, sempre respeitei minha mãe”, mas reiterou que a violência dentro de casa é uma via de mão dupla, já que há o ensinamento pelo medo. “Ou também que a referência para resolução de conflito é via violência, então são condutas que muitas das vezes reforçam dentro de casa o espaço de violência que pode acarretar nesse tipo de crime, se a pessoa tiver um distúrbio, uma pré-disposição de distúrbio”, finalizou.