Vocês já sabem, deve ser assim por aí também (importante, se você for uma mulher). Bate setembro já começam os posts patrocinados de academias, dietas, procedimentos estéticos para o “corpo de verão”. Outubro, novembro, a coisa vai ficando um tantinho mais agressiva. Em dezembro descamba total. O povo perde a vergonha. Esses dias uma professora de hipopressivo dizia bem assim: você não vai submeter seu marido a essa barriga, não é? E não era à barriga do marido que ela se referia não.
Essa é das mais absurdas e fiquei pra ver o vídeo até o fim por uma questão antropológica. Mas há outros convites um pouco mais disfarçados. Agorinha, enquanto passeava nas publicações que escolhi acompanhar – as dos amigos, dos colegas, dos poetas e artistas de quem eu gosto, dos jornais e da vida mesmo – uma outra sugerida pelo algoritmo me apareceu. Era uma clínica de estética. A foto de um aparelho esmagando um pedaço de carne, close closíssimo, não dava nem pra entender de que parte do corpo a gente estava falando, mas a legenda explicava. “Quer se livrar da gordurinha indesejada que tanto te incomoda? A lipo HD bla bla bla”. Seguia desfilando as mil vantagens do procedimento em relação ao seguir “tão incomodada”, nos lembrava de que é “100% natural e vegano” (oi?) e por fim, entregava o melhor ato falho do dia (pelo menos até agora): “A era do embelezamento saudável cegou! Transforme seus desejos em realidade”.
Cegou mesmo, minha gente. Primeiro, não sei se dá pra chamar de saudável, sabe? E digo respeitosamente, amo uma tecnologia, não se trata disso. Mas esse convite coletivo para o incômodo me pega. Escute, se você não está incomodada com essa gordurinha indesejada, tem algo de muito errado e pouco 100% natural e vegano em você. Jura, galera? Indesejada por quem? Barrigas não submetem ninguém a nada.
Às vezes eu tenho uma dificuldadezinha de me localizar em 2024. Tanta coisa já aconteceu e a gente segue submetido (aí sim) a esse tipo de comunicação e imposição estética. Tenho escutado no consultório todos os dias, várias vezes por dia, o incômodo de mulheres de todas as idades e interessâncias com a chegada da temporada de praia. Dos analisandos homens ainda não ouvi uma única menção. Desejemos a praia, só a praia. Com a barriga que for. Que só o sol quente feche nosso olhinho (e pouco, o tempo de alcançar os óculos escuros). Bota esse biquíni, pelo amor de deus. Boa semana, queridos.