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Pola, Jéssica!

O elevador aqui do consultório é lento, lentíssimo. Tem dia que eu detesto, mas tem dia que eu amo. Como estou no décimo andar, se pegar alguém distraído de um andar mais alto no meio da ligação, dá tempo de ouvir a conversa toda. O prédio tem 20 andares, 8 salas por andar, as chances são até grandes de me entreter do décimo até o térreo. Fora que são quase as mesmas pessoas, então nem tudo é microconto. Me pego torcendo pelo repeteco de alguns personagens pra tomar pé das tramas que deixei pela metade.

Tem um moço específico que faz meu dia. É que ele não tem coragem de falar nenhum tipo de palavrão, mas também não gosta de sinônimos, faz pequenas modificações pra soar menos agressivo e a coisa fica de um ridículo maravilhoso. Sexta-feira mesmo, ele no celular puto da cara, repetia: “Jéssica, eu estou pluto com você, uma melda dessa não se faz com ninguém”. Minha gente, “pluto” eu já tinha ouvido ele falar mais de uma vez, porque parece que a vida ali com a Jéssica não é das mais fáceis, mas “melda” é um pouquinho demais, não?

Aí outro dia, o elevador parou no oitavo e entrou um amigo dele. Deram tanto tapa nas costas um do outro que provavelmente ficaram marcados até pelo menos a hora do jantar (era hora do almoço). Um pergunta onde o outro vai almoçar e o meu personagem indica o self-service da Barão de Tatuí defendendo que a farofa de lá é do “caláblio”. Primeiro que não é, de farofa eu entendo. E depois que juro por deus que ele tem mais de 8 anos de idade, é psicanalista inclusive, pronto, falei.

Agora escrevendo a vocês fiquei na dúvida se a questão é de fonoaudiologia, uma coisa meio Cebolinha das ideias, mas lembrei que não porque teve uma vez que ele chamou o interlocutor que estava ao telefone, e não era Jéssica porque foi dito assim no masculino, de “frilho da pucra”. Nesse dia eu ri mesmo, na cara dura, sob o risco de ser mandada pra “pucra que me pariu”.

Parece que o brasileiro fala em média 8 palavrões por dia. Segundo a pesquisa onde li esse dado, as cidades campeãs no uso dos palavrões são Brasília, Fortaleza e Rio de Janeiro. Achei meio pouco, o que vocês acham? Se a gente tomar o dado por verdade, pelo menos 8 vezes por dia, meu vizinho faz o movimento de querer dizer, não dizer, achar uma palavra substituta, dizer a substituta, talvez não se sentir 100% satisfeito, amargar frustração, chorar no banho e gritar com a cabeça no travesseiro todos os Rs e Ss que sente vontade. Bem, por mim, tá ótimo. Não, desculpa, espero que ele se sinta livre pra dizer o que quer, tadinho. Tem dia que é floda mesmo. Boa semana queridos.

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