Segundo a OMS, cerca de 20% da população brasileira sofre de rinite alérgica, uma condição respiratória frequentemente associada à asma. A doença, que causa espirros, coceira, congestão nasal e coriza, compartilha processos inflamatórios com a asma. Agora, uma equipe internacional de pesquisadores descobriu diferenças nas comunidades de fungos — ou microbiota — presentes no nariz de pacientes com essas condições, em comparação a pessoas saudáveis.
O estudo, publicado na revista Frontiers in Microbiology, analisou amostras nasais de 214 participantes, incluindo pacientes com rinite alérgica, asma ou ambas as condições, além de 125 indivíduos saudáveis como grupo de controle. Utilizando técnicas de sequenciamento de DNA, os pesquisadores identificaram uma diferença significativa na diversidade e composição dos fungos entre os grupos.
“As amostras de rinite alérgica apresentaram uma diversidade fúngica significativamente maior e uma estrutura de comunidade fúngica diferente em comparação com os controles saudáveis,” afirmou o líder do estudo Luís Delgado, da Universidade do Porto, em Portugal, em comunicado. Isso sugere que a rinite alérgica altera o microbioma das vias aéreas superiores, potencialmente influenciando o ambiente imunológico local.
As famílias de fungos mais comuns em todas as amostras foram Ascomycota e Basidiomycota, com 14 gêneros dominantes detectados. Entre eles, estavam fungos já reconhecidos como alérgenos ou patógenos em potencial, mostrando que a cavidade nasal é um reservatório importante desses organismos.
Embora não tenham sido observadas diferenças significativas no micobioma entre pacientes com rinite alérgica, asma ou ambas as condições, aqueles com as duas doenças apresentaram comunidades fúngicas mais interconectadas, sugerindo uma influência marcante no sistema imunológico.
Os pesquisadores também identificaram a abundância de três vias metabólicas associadas à produção de 5-aminoimidazol ribonucleotídeo (AIR), um precursor essencial para a síntese de DNA e RNA.
Se estudos futuros confirmarem essa ligação, o AIR poderá se tornar um alvo para novos tratamentos ou diagnósticos de problemas respiratórios.
Limitações da pesquisa
Apesar dos resultados, Delgado destacou as limitações do estudo, como a impossibilidade de monitorar alterações ao longo do tempo ou controlar todas as variáveis específicas dos pacientes.
“Estudos longitudinais podem ajudar a compreender melhor se os fungos impulsionam os processos da doença e, em caso afirmativo, quais são os responsáveis,” explicou. “Os dados-chave e as hipóteses estão publicados para que outros possam replicá-los e, finalmente, conectar o laboratório à clínica.”
Fonte: Revista Galileu