Estudos científicos publicados no Andrology demonstram que o consumo de álcool por homens que querem ser pais pode interferir negativamente na saúde do feto, aumentando inclusive, o risco de Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) — comumente associada às futuras mães.
Uma das pesquisas, realizada pela Texas A&M University, detalhou que os hábitos paternos de ingestão de bebida alcoólica podem causar prejuízos como defeitos cerebrais e faciais no bebê, além de impactar na formação da placenta e até mesmo nos resultados de fertilização in vitro.
De acordo com Arnold Achermann, urologista da Clínica Mãe Londrina, a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) é uma condição que afeta a saúde dos bebês e está muito relacionada ao consumo de álcool por parte das mães durante a gravidez. O médico explica que, nesses casos, o álcool atravessa a placenta e pode interferir no desenvolvimento do feto, causando problemas físicos, mentais e comportamentais que duram a vida inteira.
Contudo, o especialista pontua que os estudos recentes indicam que o consumo de álcool pelos pais antes da concepção também é capaz de interferir nos espermatozoides e contribuir para o diagnóstico de SAF nos filhos, mesmo que a mãe não tenha ingerido nenhuma quantidade de álcool durante a gestação.
“Pesquisas com modelos animais têm demonstrado que o consumo de álcool pelo pai não afeta o DNA dos espermatozoides diretamente, mas pode modificar a expressão genética (epigenética). Essas alterações podem levar a sequelas físicas, mentais e comportamentais nos filhos”, reitera.
Arnaldo menciona, ainda, outro estudo americano recente que avaliou mais de 1.600 homens e identificou 41 casos de crianças com SAF, mesmo sem a mãe ter ingerido álcool durante a gestação.
Álcool versus fertilidade em homens
Segundo a ginecologista especialista em reprodução assistida Karina Tafner, o comprometimento da qualidade do sêmen causado pelo consumo de álcool ocorre de diversas maneiras, como:
– Diminuição da concentração de espermatozoides – O consumo crônico de álcool pode reduzir a contagem total de espermatozoides;
– Alterações na motilidade espermática – A motilidade (capacidade de movimento) dos espermatozoides pode ser prejudicada, dificultando seu transporte eficiente até o óvulo;
– Alterações morfológicas – O álcool pode causar alterações estruturais nos espermatozoides, como defeitos na cabeça, peça intermediária ou cauda. Espermatozoides com morfologia anormal têm menor probabilidade de fertilizar um óvulo;
– Aumento do estresse oxidativo – O álcool contribui para o aumento de espécies reativas de oxigênio (ROS), que podem causar danos ao DNA espermático. Isso compromete a integridade genética dos espermatozoides;
– Redução do volume seminal – O consumo excessivo de álcool pode diminuir a produção de líquido seminal, que é essencial para o transporte e nutrição do espermatozoide;
– Fragmentação do DNA espermático – Homens que consomem grandes quantidades de álcool apresentam maior risco de fragmentação do DNA espermático, o que pode levar a problemas de fertilidade e aumentar a chance de aborto espontâneo.
“Portanto, para homens com problemas de fertilidade, é aconselhável evitar o consumo excessivo de álcool para não agravar a condição já existente”, frisa a médica.
Para Achermann, além do álcool, outros hábitos e condições podem afetar a fertilidade masculina e, consequentemente, a saúde do feto. São eles: sedentarismo e obesidade; tabagismo e uso de drogas (maconha, cocaína, etc.); exposição ao calor excessivo (como uso frequente de saunas ou banhos quentes); uso de anabolizantes e exposição a substâncias tóxicas (como pesticidas e produtos químicos).
“Como a produção de espermatozoides (espermatogênese) dura 74 dias – desde a primeira célula a começar a se diferenciar até ficar pronta com espermatozoides maduros –, mudanças positivas no estilo de vida só terão impacto total após 3 a 6 meses. O tempo é determinante, principalmente quando se olha para o quadro feminino. Quanto mais avançado a idade da mulher, menos óvulos ela terá e de menor qualidade. Assim, é importante agir rapidamente para investigar e tratar casais com dificuldade para engravidar”, alerta o urologista.
Karina acrescenta outros fatores:
– Falta de nutrientes essenciais, como zinco, selênio, vitamina C, vitamina E, e ácido fólico, que pode prejudicar a espermatogênese e aumentar o estresse oxidativo;
– Consumo excessivo de cafeína, que pode reduzir a motilidade e alterar a qualidade do sêmen;
– Privação de sono, que reduz a produção de testosterona e pode impactar negativamente a espermatogênese;
– Consumo de fast food e dietas ricas em gorduras saturadas, que estão estão associados a menor contagem de espermatozoides e maior fragmentação do DNA;
– E Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), como clamídia, gonorreia e HPV, que podem causar inflamação e danos ao DNA espermático.
Fonte: Metrópoles