O governo do Acre confirmou que está realizando um estudo financeiro para avaliar a descentralização da gestão de hospitais de pequeno porte no interior do estado. A medida, segundo o governo, busca analisar os custos e a viabilidade de transferir a administração dessas unidades para os municípios, seguindo modelos já adotados em outras regiões.
Em nota emitida nesta segunda-feira, 20, a gestão estadual destacou que ainda não tomou uma decisão final sobre o tema. “Destacamos que, em nenhum momento, houve uma decisão final sobre a municipalização dos hospitais de pequeno porte no estado. […] A gestão descentralizada é uma prática já adotada por outros municípios, com a administração de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) sob a responsabilidade dos próprios municípios”, explicou.
O secretário de Saúde, Pedro Pascoal, reiterou que o estudo busca identificar os custos envolvidos e que qualquer decisão será amplamente discutida. “Pontuamos que, em hipótese alguma, o martelo foi batido sobre este tema. O que, de fato, foi feito foi um estudo financeiro de quanto custa cada unidade no interior”, afirmou.
A iniciativa, no entanto, gerou críticas do Sindicato dos Médicos do Acre (Sindmed-AC), que classificou a proposta como precipitada e inadequada. Em nota de repúdio, o sindicato afirmou que a municipalização pode sobrecarregar os municípios, que não possuem estrutura financeira e técnica para gerir unidades de média complexidade.
“O governo do estado declara a quebra do legítimo debate democrático e o sentido maior de universalização do sistema, sobrecarregando a ponta, os municípios, que não possuem arrecadação própria e sobrevivem de transferências constitucionais”, destacou o sindicato.
O Sindmed-AC também apontou que o tema desvia a atenção de outras demandas urgentes, como a finalização do Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração (PCCR), necessário para atrair especialistas para o estado. Além disso, criticou atrasos em obras de hospitais de Sena Madureira e Feijó, que deveriam ter sido concluídas em 2021 e 2024, respectivamente.
Leia, na íntegra, a nota do governo do Estado:
Nota sobre a Descentralização da Gestão de Saúde no Acre
O governo do estado do Acre reafirma seu compromisso com a transparência e o diálogo em relação ao tema da descentralização da gestão de serviços de saúde. Trata-se de um processo cuidadoso e respeitoso para que essa mudança aconteça de forma eficaz e responsável.
O governo tem plena ciência das etapas necessárias para a concretização desse processo, incluindo as discussões com os sindicatos, a aprovação na Assembleia Legislativa e o fortalecimento do controle social. Destacamos que, em nenhum momento, houve uma decisão final sobre a municipalização dos hospitais de pequeno porte no estado e deixamos que um estudo financeiro detalhado está sendo realizado para avaliar os custos envolvidos na descentralização para unidades no interior. Além disso, a gestão descentralizada é uma prática já adotada por outros municípios, com a administração de unidades como Unidades de Pronto Atendimento e Servicos de Atendimento Móvel de Urgência sob a responsabilidade dos próprios municípios.
Em conclusão, a Secretaria de Estado de Saúde reitera que, embora a descentralização seja um tema importante, ela será debatida com cautela e respeito às diversas etapas e discussões que ainda devem ser realizadas.
Pedro Pascoal Duarte Pinheiro Zambon
Secretário de Estado de Saúde do Acre
Leia, na íntegra, a nota do Sindmed-AC:
Nota de Repúdio
A Diretoria do Sindicato dos Médicos do Acre (Sindmed-AC) recebeu a notícia de municipalização de hospitais do interior com sentimento de revolta. É vergonhoso para a gestão da Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre) anunciar pela imprensa a municipalização de hospitais do interior, assinando atestado de incompetência, assumindo ser incapaz de cumprir com a importante tarefa de garantir saúde pública de qualidade.
Ao assumir um tenebroso plano sem passar por debates com os servidores e com o próprio Conselho Estadual de Saúde (CES), o governo do Estado declara a quebra do legítimo debate democrático e o sentido maior de universalização do sistema, sobrecarregando a ponta, os municípios, que não possuem arrecadação própria e sobrevivem de transferências constitucionais, e que não possuem capacidade para a gestão de unidade de média complexidade.
Os representantes deste Sindicato ainda acreditam que propagar o tema busca fugir do foco principal, que é a garantia de melhorias das unidades de saúde e a finalização do Plano de Cargo, Carreira e Remuneração (PCCR), uma reforma necessária para atrair e fixar médicos especialistas no Acre, o que demonstra a falta de habilidade política por parte do governo de Gladson Cameli, ao brincar com a saúde dos acreanos.
A declaração de incompetência ainda aumenta os riscos para a saúde das pessoas, e eleva a possibilidade de assédio moral contra servidores, ao permitir a ampliação do uso de apadrinhados na administração de hospitais, surgindo uma série de irregularidades, além das existentes e já comentadas, como a possível criação de uma fila “prioritária” de atendimento para eleitores de determinado candidato, aumentando o curral eleitoral.
A Diretoria do Sindmed-AC ainda alerta para os riscos reais da falta de recursos, como já ocorreram em gestões anteriores de unidade gerida por Oscip, deixando salários atrasados pelo atraso de repasses, condicionando o dinheiro da saúde a uma mera conveniência política, elevando o risco de mortes por falta de insumos e de assistência.
O atestado de incompetência da Sesacre e do governo de Gladson Cameli é ainda mais flagrante ao verificar o atraso de obras importantes, como o Hospital de Sena Madureira, que deveria ter sido inaugurado em 2021, e de Feijó, que deveria ser entregue em abril de 2024.
A Diretoria do Sindmed-AC se reunirá para debater uma estratégia em conjunto com a equipe de advogados e apresentará propostas de mobilização para a categoria, que poderá decidir até por uma greve por tempo indeterminado.
A Diretoria do Sindmed-AC