Semana passada, recebi uma candidata a analisanda em entrevista.. Embora eu ame os atendimentos dos analisando que já estão no consultório, as entrevistas são o ponto alto do trabalho de um analista, pelo menos pra mim – tem gente que detesta. É que estar em contato pela primeira vez com um mundo inteiro de alguém que não existia em seu mundo é de uma preciosidade. Vocês não acham? Faço pouquíssimas entrevista, há meses que não escutava esse mundo novo. Pra receber alguém no consultório, você precisa ter um quadradinho vago na agenda, sabe? Uma quinta, 3h da tarde sem compromisso recorrente, por exemplo. Pois que surgiu um quadradinho, bem na quinta às 3h da tarde. E eita!
De volta à candidata a analisanda. Foi bonito nosso encontro. Por várias razões, por ter sido um encontro – assim pronunciando todas as sílabas – e pelo tamanho que minha quinta às 3h da tarde parece que vai tomar. Conto só uma besteirinha de como foi (ela autorizou me autorizou a contrar, claro). Foi a resposta à primeira pergunta que sempre faço a todo mundo que chega. E vocês sabem que em análise não há sempre, nem todo mundo, cada um é um grande cada um. Mas quase sempre, quase todo mundo responde a o “o que te trouxe aqui?”, com um “quero me conhecer melhor”. Ela não.
Ela respondeu com um “quero ser outra pessoa”. Eita, é mesmo? Por que? E aí saiu listando tudo que tinha de não gostável dentro de si. Fazia isso, dizia aquilo, estava cansada de ser assim e assado, mil defeitos, mil defeitos. Até que numa certa altura, ela para, dá um golinho na água e fala meio que pra retomar o fôlego “e isso é só o que eu sei de mim, imagina o que eu não sei”. Soltei um “imagina”. Imaginar é também verbo de análise. Tem o recordar, repetir e elaborar do Freud, claro que tem. Tem o chorar, falar, silenciar, tem também. Mas imaginar, criar, rir, fazer, refazer, sentir, brincar, respirar, se espantar, se maravilhar, gostar do que se vê dentro, cabem bonitinho num processo analítico.
Achei lindo esse “imagina o que eu não sei”. Quando eu for explicar pra alguém o que é uma análise, a partir de agora, vou dizer assim: imagina o que tu não sabe. Quase tudo cabe dentro desse não saber. Doida pra chegar quinta-feira. Imaginemos, queridos. Boa semana pra vocês.