Uma dieta rica em alimentos como uva, morango, açaí, laranja, chocolate, vinho e café pode reduzir em até 23% o risco de síndrome metabólica — que é um conjunto de alterações hormonais e no metabolismo que eleva a chance de desenvolver doenças cardiovasculares. A descoberta consta em um estudo feito com mais de 6 mil brasileiros, divulgado nesta segunda-feira (3/2).
A pesquisa associa os efeitos do consumo de polifenóis — compostos bioativos conhecidos pela ação antioxidante e anti-inflamatória — na proteção de problemas cardiometabólicos. “Trata-se de uma boa notícia para quem gosta de frutas, chocolate, café e vinho, alimentos ricos nesses compostos. Embora a relação entre o consumo de polifenóis e a redução do risco de síndrome metabólica já ter sido identificada em estudos anteriores, ela nunca havia sido verificada em uma população tão grande e ao longo de tanto tempo (oito anos), afirma Isabela Benseñor, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) e coautora do artigo.
A síndrome metabólica é caracterizada pela combinação de pressão alta, obesidade abdominal, níveis sanguíneos elevados de açúcar (hiperglicemia), de triglicerídeos e de colesterol (dislipidemia). Geralmente, o diagnóstico é dado quando o indivíduo apresenta pelo menos três desses cinco fatores.
Existem mais de 8 mil tipos de polifenóis já identificados na natureza, sendo que os mais conhecidos e estudados são os ácidos fenólicos (presentes no café e no vinho), os flavonoides (frutas de forma geral, feijão e chocolate), as lignanas (sementes e laranja) e os estilbenos (uva roxa e vinho tinto).
Para identificar quais substâncias os participantes da pesquisa consumiam regularmente, foram aplicados questionários. Então, verificou-se a frequência da ingestão de 92 alimentos ricos em diferentes classes de polifenóis. Os efeitos de diferentes métodos de cozimento e processamento foram levados em consideração para permitir medições precisas da ingestão desses compostos bioativos.
Os pesquisadores observaram que um consumo elevado de polifenóis totais (469 miligramas por dia), proveniente de diferentes alimentos, diminuiu em 23% o risco de os indivíduos desenvolverem a síndrome metabólica, em comparação com aqueles que apresentaram um consumo mais baixo (177 mg/d). Uma redução similar do risco foi encontrada para o consumo de ácidos fenólicos, uma classe específica de polifenol abundante no café, vinho tinto e nos chás.
“A variedade alimentar importa, pois uma das justificativas para os efeitos benéficos dos polifenóis na saúde é a sua capacidade de modular a microbiota intestinal. Esse processo pode estimular o crescimento de bactérias benéficas, conhecidas como probióticas. Porém, quanto mais diversa for a alimentação e mais variadas forem as fontes de polifenóis na dieta, melhor é o efeito na microbiota intestinal e, consequentemente, na saúde do indivíduo”, cita a pesquisadora Renata Carnaúba.
A análise dos dados para o artigo foi feita na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da Universidade de São Paulo (USP). Os resultados foram divulgados no periódico Journal of Nutrition.
Por: Correio Braziliense