Recentemente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou a Lei 15.100/25 que proíbe o uso de celulares nas escolas públicas e particulares. A medida gerou discussão sobre o impacto do vício em celular na saúde mental das crianças e adolescentes.
De acordo com a pesquisa TIC Kids Online Brasil 2023, realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, cerca de 25 milhões de crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos eram usuários de internet em 2023 no país. Na relação entre jovens e internet, há o uso de redes sociais que causam um impacto considerável na saúde desse público.
O psicólogo Marcos Torati, mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP, explica que os feeds das redes sociais são projetados para estimular a hiperconectividade.
“No caso dos jovens, devemos observar se a relação com o meio virtual dilui a experiência de privacidade e solitude, necessárias na formação da identidade. Quando a busca do adolescente por se conhecer e ser reconhecido se resume a postar e compartilhar, a dependência do mundo digital não é a raiz do problema e sim um sintoma de uma busca emocional para pertencer”, avalia.
Impacto do vício em celular no desenvolvimento da criança e do adolescente
A ausência de pausas no uso do celular pode reforçar a tendência à instantaneidade, dificultando o manejo da capacidade de espera, o que se conecta com o conceito de Fomo, que vem da expressão em inglês “fear of missing out”, que significa “medo de ficar de fora”.
Ou seja, o medo de não conseguir acompanhar as atualizações dos eventos. Além disso, o excesso de estímulos e conteúdos apresentados em alta velocidade pode banalizar as experiências, reduzindo a capacidade de atenção e a qualidade do tempo na plataforma.
“Redes sociais combinam conteúdos personalizados, autoplay e recompensas imprevisíveis para manter a atenção dos usuários. A combinação de repetição automática e busca obsessiva pode provocar no indivíduo um estado alterado de consciência, comparável à hipnose, pois o foco intenso, aliado ao relaxamento psicológico, favorece a alienação do mundo exterior. Essa desconexão resulta em procrastinação e perda de noção corporal e do tempo social”, comenta ele.
Celular na rotina das crianças
Segundo o psicólogo, quando toda essa hiperestimulação se torna habitual no contexto da criança e do adolescente eles se distanciam de três experiências importantes no processo de desenvolvimento: o contato com a sensação de vazio, o tédio e surgimento do ócio criativo. Isso porque, de acordo com ele, “é na ausência do outro e dos estímulos externos que a criança e o jovem podem descobrir a importância da capacidade de estar só e o valor da solitude, explorando a capacidade de se entreter consigo e com a companhia dos próprios pensamentos.”
Na avaliação do especialista, os pais também tem responsabilidade no vício das crianças em celular. “Ao evidenciarmos as figuras parentais como possíveis agentes dos vícios infantis, certos detalhes aparecem. Por exemplo, um smartphone pode ser entregue nas mãos de uma criança pela dificuldade dos pais em lidar com choros e frustrações. Em outros casos, esses pais têm medo de dizer ‘não’, enquanto em alguns lares, é construído um pacto inconsciente em torno do gozo, de modo que os pais não pensam em proibir o acesso dos dispositivos porque eles próprios são vítimas das intoxicações eletrônicas e não desejam perder e nem exigir esse direito”, aponta.
Como identificar o vício em celular nas crianças?
Para identificar o vício em celular nos jovens, o psicólogo orienta os pais a estar presentes na vida dos filhos e atentos a mudanças no seu comportamento, como novos vocabulários, respostas agressivas diante das frustrações, perturbações na concentração ou hiperfoco, distúrbios no processo de aprendizagem, isolamento social, entre outras consequências negativas para a qualidade de vida da criança e do adolescente. Em caso de problemas, os pais devem procurar orientar os jovens sobre os riscos do uso excessivo de redes sociais e das interações com desconhecidos e, se necessário, buscar ajuda especializada para lidar com o problema.
Por Alto Astral