A Bíblia, um dos textos mais influentes e lidos da história, continua a intrigar estudiosos e leitores: quem a escreveu? A resposta, longe de ser simples, envolve décadas de pesquisa histórica, análise literária e debates acadêmicos. Segunda a professora Elizabeth Polczer, especialista em estudos bíblicos da Universidade Villanova, nos Estados Unidos, a Bíblia foi escrita por pelo menos 40 autores diferentes, cada um contribuindo com partes distintas desse vasto mosaico literário e religioso.
Composto por 66 livros e mais de 783 mil palavras, o Antigo e o Novo Testamento representam uma coleção de textos escritos ao longo de séculos. O Antigo Testamento, também conhecido como Bíblia Hebraica, foi redigido entre aproximadamente 1200 a.C. e o primeiro século a.C., enquanto o Novo Testamento foi escrito em um período mais concentrado, durante a segunda metade do primeiro século d.C.
“Cada livro da Bíblia precisa ser analisado individualmente para determinar sua autoria”, explica Polczer, em entrevista ao Dailymail. “Esse processo é bastante complicado, pois envolve identificar contradições, duplicações e estilos literários distintos”.
Autores conhecidos e mistérios persistentes
Alguns autores bíblicos são amplamente reconhecidos pelos estudiosos. Por exemplo, Paulo de Tarso é creditado como o escritor da Carta aos Romanos, e João de Patmos é tradicionalmente associado ao livro do Apocalipse. No entanto, a autoria de outros textos permanece incerto.
Os livros como Gênesis e Êxodo, tradicionalmente atribuídos a Moisés, são agora considerados obras de múltiplos autores, compilados ao longo de séculos. “As contradições e repetições nesses textos sugerem que eles foram escritos por várias fontes”, afirma Polczer.
Os quatro Evangelhos – Mateus, Marcos, Lucas e João – também são alvo de debates. Embora tenham sido atribuídos aos chamados Quatro Evangelistas, a professora ressalta que esses textos são tecnicamente anônimos. “A atribuição a Mateus e João, discípulos diretos de Jesus, pode ser mais conveniente do que histórica”, observa.
Atribuições tradicionais e revisões modernas
Outros livros, como o “Cântico dos Cânticos”, foram tradicionalmente ligados a figuras como o Rei Salomão, enquanto as epístolas pastorais são associadas ao Apóstolo Paulo. No entanto, muitos estudiosos consideram essas atribuições questionáveis.
Por outro lado, alguns textos podem ter mantido suas conexões históricas. O Livro dos Salmos, por exemplo, é frequentemente associado ao Rei Davi, embora apenas uma parte desses poemas sagrados possa ser diretamente atribuída a ele. “Muitos salmos provavelmente foram escritos por diferentes autores e posteriormente compilados”, diz Polczer.
A Bíblia como uma obra em evolução
A Bíblia não foi escrita em um vácuo, mas sim em um contexto histórico e cultural complexo. Originalmente redigida em hebraico, aramaico e grego, ela só foi traduzida para o inglês no século XIV, com a Bíblia de Wycliffe. Posteriormente, William Tyndale produziu a primeira tradução direta dos textos originais, um feito que custou sua vida: ele foi executado como herege em 1536.
A versão mais conhecida no mundo anglófono, a Bíblia do Rei Tiago, foi publicada em 1611 e continua sendo a base para muitos estudos modernos. No entanto, a busca pelos verdadeiros autores da Bíblia permanece um desafio monumental.
“A autoria da Bíblia é uma questão complexa e problemática”, afirma Philip Almond, historiador cultural da Universidade de Queensland, na Austrália. “Isso se deve em parte à dificuldade de identificar autores específicos em um texto que foi compilado e editado ao longo de séculos.”
A Bíblia, seja vista como uma obra divinamente inspirada ou como um produto da história humana, continua a fascinar e desafiar. Com mais de 40 autores identificados – e muitos outros ainda desconhecidos –, ela é um testemunho da complexidade da tradição literária e religiosa.
Por: Revista Galileu