Quanto mais tentamos nos tornar felizes, cada vez ficamos mais infelizes. Este é o chamado “paradoxo da felicidade”, que acaba de ser explicado por uma nova pesquisa, publicada em 30 de janeiro no periódico científico Applied Psychology: Health and Well-Being.
De acordo com o estudo, a busca pela felicidade leva à exaustão, menos disponibilidade de tempo e à falta de autocontrole — tornando as pessoas menos felizes. Mais precisamente, a procura por algo que nos faça feliz pode cansar mentalmente, esgotando nossa força de vontade, tornando-nos vulneráveis na tomada de decisões. Isso nos deixa mais propícios a fazermos escolhas autodestrutivas que favorecem a infelicidade.
“A busca pela felicidade é um pouco como um efeito bola de neve”, compara Sam Maglio, coautor do estudo, professor de marketing na Universidade de Toronto Scarborough, no Canadá, em comunicado. “Você decide tentar se sentir mais feliz, mas esse esforço esgota sua capacidade de fazer o tipo de coisa que o deixa mais feliz.”
Para ilustrar a teoria, Maglio traz como exemplo uma situação cotidiana: voltar para a casa após um longo dia de trabalho. Quanto mais mentalmente esgotada a pessoa estiver, mais tentada ela fica a pular a limpeza de casa e perder tempo nas redes sociais. Ou seja, a tentativa constante de ser feliz resulta em uma pior autorregulação.
O “paradoxo da felicidade” também foi estudado em 2018 por Maglio em conjunto com o coautor da pesquisa atual, Aekyoung Kim, professor na Universidade de Sydney, na Austrália. No estudo anterior, foi descoberto que a tentativa de ser mais feliz leva à sensação de pouca disponibilidade de tempo, resultando em um maior estresse e consequente infelicidade.
Comparativamente com o dinheiro, a felicidade começa a se tornar exaustiva quando as pessoas querem sempre mais, em uma tentativa de acumular. “A história aqui é que a busca pela felicidade custa recursos mentais. Em vez de apenas seguir o fluxo, você está tentando se sentir diferente”, afirma Maglio.
Como o estudo foi feito?
Centenas de pessoas foram entrevistadas e muitas delas relataram que, quanto mais buscavam a felicidade, menos utilizavam do seu autocontrole. As respostas serviram como confirmação da teoria dos pesquisadores: a felicidade e o autocontrole disputam pela mesma carga mental do indivíduo.
Posteriormente, os participantes da pesquisa receberam uma lista com diferentes itens com a função de organizá-los. A tarefa analisava como o esforço mental e a autorregulação seriam usados para classificar essa lista, pois os pesquisadores acreditavam que qualquer tarefa, por mais simples que seja, consome energia mental.
Como esperado, pessoas que relataram estar em busca da felicidade terminaram a tarefa em menos tempo — confirmando que elas estavam exaustas e impacientes, por esgotarem os recursos cognitivos devido à carga mental de buscar a felicidade e de fazer uma tarefa que exigia a autorregulação.
O experimento seguinte apresentou anúncios em que aparecia a palavra “felicidade” para uma parte dos participantes. Os pesquisadores queriam ver se as pessoas ficavam mais motivadas a buscar satisfação somente ao ver o termo. Os envolvidos no estudo receberam uma tigela com chocolates que poderiam comer à vontade para posteriormente classificar o sabor.
Como resultado, os participantes que olharam os anúncios com a palavra “felicidade” comeram mais chocolates do que os outros. Isso significa que sugestões que motivem o contentamento podem influenciar o comportamento e a tomada de decisões das pessoas, inclusive tornando-as mais suscetíveis a buscar meios rápidos de ficar feliz (como comer chocolate) ao invés de manter o autocontrole.
Entretanto, após os resultados, Maglio e Kim levantaram um questionamento: eles comeram mais porque buscar ser feliz conscientemente é algo que consome muito esforço mental, ou qualquer tipo de objetivo que exigisse energia os deixaria igualmente cansados?
Para responder a questão, mais um teste foi realizado. Os participantes receberam objetos do cotidiano: um dos grupos tinha que escolher os itens que os deixariam mais felizes, enquanto outro tinha que fazer a seleção de acordo com suas preferências pessoais. Para medir o autocontrole dos envolvidos, os dois grupos tiveram que fazer exercícios mentais.
Como resultado, os participantes do primeiro grupo desistiram mais rápido das tarefas impostas, o que significa que a busca pelos itens que os deixariam felizes levou a uma exaustão mental.
Com isso, Maglio reforça que a busca pela felicidade não é algo fútil, mas as pessoas não devem tentar controlá-la. “Só relaxe. Não tente ser super feliz o tempo todo”, aconselha. “Em vez de tentar obter mais coisas que você quer, olhe para o que você já tem e apenas aceite isso como algo que lhe dá felicidade”.
Por: Revista Galileu