Nos Estados Unidos, uma empresa que já arrecadou centenas de milhões de dólares em um esforço para “desextinguir” espécies há muito desaparecidas do planeta anunciou, nessa terça-feira (4), um novo avanço em sua missão: a criação de “ratos-lanosos”. Geneticamente editados pela Colossal Biosciences, esses exemplares abrigam uma mistura de mutações modeladas a partir do DNA dos mamutes lanosos.
Essas alterações levaram os camundongos a apresentarem pelos mais grossos e longos, tornando-os, em teoria, mais resistentes ao frio intenso. Por isso, em comunicado, a companhia afirma que o rato-lanoso representa um passo importante em direção à meta final de projetar elefantes asiáticos, considerados os parentes vivos mais próximos dos mamutes, com características-chave típicas dos seus antepassados extintos.
“O rato-lanoso marca um momento decisivo em nossa missão de desextinção”, indica Ben Lamm, cofundador da Colossal. “Ao projetar múltiplas características de tolerância ao frio nesta espécie-modelo viva, provamos nossa capacidade de recriar combinações genéticas complexas que a natureza levou milhões de anos para evoluir”.
Processo de edição genética
Como parte de seu esforço para projetar elefantes semelhantes a mamutes, a Colossal e seus colaboradores trabalham para encontrar as variantes genéticas responsáveis pelas características-chave dos mamutes. Isso inclui, por exemplo, seu pelo desgrenhado, a tolerância ao frio e suas reservas extras de gordura.
Para isso, os cientistas têm comparado os genomas extraídos dos restos mortais de dezenas de mamutes e de outros parentes vivos e extintos dessas criaturas. A ideia por trás da tarefa é identificar quais as proteínas que evoluíram na linhagem dos mamutes para depois descobrir como provocar a sua alteração e reproduzir artificialmente o processo da seleção natural.
Para testar a precisão dessas comparações, uma equipe liderada por Beth Shapiro, cientista da Colossal, usou edição genética para criar camundongos com mutações semelhantes — não idênticas — àquelas encontradas em mamutes. Ela ainda conduziu experimentos extras com várias mutações genéticas conhecidas por afetar o pelo de camundongos, mas que não necessariamente eram encontradas em mamutes.
Os pesquisadores usaram diferentes ferramentas de edição genética para criar camundongos com até oito alterações genéticas espalhadas por sete genes diferentes. Cerca de 250 embriões foram produzidos, mas menos da metade deles se desenvolveram em embriões maiores e mais viáveis, de 200 a 300 células, que foram então implantados no útero de cerca de uma dúzia de fêmeas substitutas.
No total, nasceram 38 filhotes, que expressaram com sucesso a característica de pelos longos e desgrenhados de tom dourado, diferente do cinza escuro usual. Além disso, esses animais apresentavam um metabolismo lipídico acelerado, o que não os tornou mais pesados do que camundongos com genes não editados.
“Embora o projeto do rato-lanoso não nos aproxime mais de um mamute, ele valida o trabalho que estamos fazendo no caminho para um mamute”, destaca Lamm à revista Time. “Começamos este projeto em setembro e tivemos nossos primeiros ratos em outubro, o que mostra que isso funciona — e funciona de forma eficiente”.
Expectativa de evolução dos estudos
Os ratos ainda têm apenas alguns meses de idade. Isso significa que os pesquisadores não tiveram muito tempo para investigar como as mutações podem afetar a saúde a longo prazo desses exemplares, incluindo sua fertilidade e propensão a desenvolver cânceres.
A expectativa é de que, daqui para frente, mais experimentos sejam conduzidos para avaliar o desenvolvimento de seus pelos, bem como a capacidade desses ratos em lidar com o frio, na comparação com camundongos cuja genética não foi alterada em laboratório. Esses esforços já devem ser iniciados em breve.
Lamm afirma que a empresa não tem planos de criar ou vender os camundongos comercialmente. Mas, de acordo com a revista Nature, por US$ 3.500 (cerca de R$ 20 mil), é possível comprar uma linhagem de camundongos de pelo desgrenhado conhecida como “wooly” do Jackson Laboratory, que os criou pela primeira vez há mais de duas décadas.
Vale destacar, contudo, que a linhagem “wooly” carrega uma mutação em um gene chamado Fam83g. No caso dos exemplares da Colossal, esses genes estão inativados. Ainda não publicado de forma oficial, os detalhes do estudo mais recente foram disponibilizados na plataforma bioRxiv.
Por: Revista Galileu