No Dia Internacional da Mulher, celebrado neste sábado, 8, A GAZETA traz a história da procuradora de Justiça do Ministério Público do Estado do Acre (MPAC), Patrícia de Amorim Rêgo, que construiu uma trajetória marcada pela defesa dos direitos das mulheres e pelo combate à violência de gênero no Acre.
Com 31 anos de carreira, Patrícia inicialmente sonhava em ser jornalista, mas, de última hora, decidiu trocar o microfone pela toga ao se inscrever para o curso de Direito.
“Eu venho de uma família que não tem tradição na área jurídica. Meus pais são de outra área. Contudo, sou uma mulher dos anos 1980, e minha juventude se deu no momento da abertura e redemocratização do Brasil. Isso me inspirou a buscar profissionalmente algo que pudesse contribuir para a justiça social e um país mais igual e democrático”, relembra.
Desde 2016, Patrícia atua como coordenadora geral do Centro de Atendimento à Vítima (CAV), um órgão essencial no suporte a mulheres que enfrentam violência doméstica, abuso sexual e crimes motivados por homofobia. “Essa função é uma interlocução com os atores de dentro e de fora da instituição, mas também de planejamento e gestão das atividades e projetos. O CAV é uma iniciativa inovadora no MP brasileiro, e acho que tem ajudado a mudar a realidade de muitas mulheres”, afirma.
Olhar cuidadoso e humano
Sua visão sobre o direito criminal e a segurança pública evoluiu ao longo dos anos. “A questão da violência de gênero me deu uma nova perspectiva. No contato com as vítimas, os processos ganham cheiro, cor, vida. Você passa a ter um olhar mais cuidadoso e humano”, observa. Essa transformação é refletida no trabalho diário com uma equipe multidisciplinar que busca amparar as vítimas e garantir que elas tenham acesso à justiça.
Patrícia também tem se empenhado em dar visibilidade a grupos muitas vezes marginalizados, como mulheres trans e travestis, assegurando que recebam o atendimento adequado nas delegacias da mulher. “Com nossa atuação, conseguimos dar dignidade a essas pessoas”, afirma.
Além disso, o CAV tem lutado contra a subnotificação de crimes de abuso sexual. Em uma investigação, descobriram que meninas de 12 e 13 anos, atendidas em hospitais para partos, muitas vezes não tinham seus casos de estupro relatados às autoridades. “Esse é um problema sério que estamos combatendo com campanhas de sensibilização”, destaca Patrícia.
Diploma Bertha Lutz
Recentemente, Patrícia foi indicada ao Diploma Bertha Lutz, uma honraria do Senado Federal que reconhece as contribuições na defesa dos direitos das mulheres. “Esse reconhecimento pertence à minha equipe e a todos os profissionais que atuam em prol da defesa dos direitos das mulheres”, expressa emocionada.
Patrícia receberá o prêmio ao lado de figuras ilustres como Fernanda Torres e sua mãe, Fernanda Montenegro, em uma cerimônia marcada para o dia 26 de março.
“Recebi a notícia com muita honra, emoção e alegria. Carregar no peito a “brand” Bertha Lutz , essa mulher extraordinária muito a frente do seu tempo, já fala por si. Agradeço imensamente a generosidade do senador Sérgio Petecão por ter me indicado e aos senadores e senadoras que aprovaram o meu nome, mas tenho que registrar e lembrar com humildade que essa comenda não é minha, mas da minha instituição, o MP acreano, dos seus membros e servidores e, em especial, à equipe super comprometida e competente do CAV e do Obsgenero, que se dedica incansavelmente todos os dias para o enfrentamento da violência de gênero no estado, salvando literalmente vidas e não deixando silenciar a voz e a dor de muitas acreanas”, refletiu
Mais que um testemunho do impacto que uma mulher pode ter na luta contra a violência e pela justiça social, a história de Patrícia ainda faz mais: inspira futuras gerações a se envolverem na defesa dos direitos humanos.