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Caso Vitória: show midiático e trapalhadas marcam ofensiva da polícia

Caso Vitória: show midiático e trapalhadas marcam ofensiva da polícia

Foto: Reprodução

Com diversas linhas de investigação, pelo menos uma dúzia de suspeitos e nenhum preso, o assassinato brutal da jovem Vitória Regina de Sousa, de 17 anos, deu origem a um show de horrores midiático patrocinado pela polícia. O espetáculo contou com perícias realizadas diante de dezenas de jornalistas e televisionadas ao vivo, a divulgação de informação oficial falsa e até briga em delegacia.

Vitória Regina foi encontrada sem vida na última quarta-feira (5/3), após passar uma semana desaparecida. O corpo da garota estava decapitado, com diversas marcas de violência e completamente nu. Vitória teve o cabelo raspado e um sutiã amarrado ao pescoço.

A menina havia sido vista pela última vez no último dia 26, após deixar o trabalho no restaurante de um shopping. Câmeras de segurança gravaram ela caminhando até um ponto de ônibus. Ela desceu sozinha no ponto final, em Ponunduva, bairro onde morava com a família.

No trajeto, enviou áudios e mensagens para uma amiga dizendo que estava com medo de dois homens que estavam num carro e a assediaram.

Na quinta-feira (7/3), um dia após o corpo ser encontrado, o delegado Aldo Galiano, titular da Seccional de Franco da Rocha, disse a jornalistas que suspeitava de um ex-namorado da vítima. A equipe de investigação pediu a prisão do rapaz, que foi negada pela Justiça, sob a justificativa de que não havia elementos a corroborar a medida cautelar.

A Secretaria da Segurança Pública (SSP) chegou a divulgar a informação falsa de que a Justiça havia determinado a prisão, o que foi amplamente replicado pela imprensa.

No mesmo dia, Galiano realizou uma entrevista coletiva em que apresentou as supostas linhas de investigação do caso. Uma delas, segundo o delegado, é que o crime teria relação com o Primeiro Comando da Capital (PCC). O motivo, diz ele, é o fato de que meses antes um homem supostamente ligado à facção teria sido preso na mesma região.

“Há um inquérito apurando essa prisão. Então, a gente está linkando todos esses dados. O que nos falta é fechar os pontos. […] As raspagens do cabelo e a crueldade do ato são um sinal de facção criminosa”, disse ao Metrópoles.

Na ocasião, ele também levantou a hipótese de que o crime fosse motivado por “talaricagem”, sugerindo que Vitória Regina poderia traído o autor do crime, com quem eventualmente teria um relacionamento. O delegado disse até o nome de um dos ex-namorados da vítima.

Na sexta-feira (7/3), uma nova hipótese foi divulgada pela polícia à imprensa, a de que o autor do crime seria o atual namorado de um ex-namorado da vítima. O novo suspeito seria, supostamente, integrante do PCC.

Show de perícias

Em duas oportunidades nessa sexta-feira (7/3), dezenas de jornalistas que estavam na Delegacia Seccional de Franco da Rocha testemunharam uma equipe da Polícia Científica e papiloscopistas da Polícia Civil realizarem perícias no veículo de um dos suspeitos.

A poucos metros de distância, os jornalistas assistiram aos policiais usando luz azul para encontrar eventuais manchas de fluidos corporais no veículo, coletando fios de cabelo e até colocando cães farejadores para tentar confirmar se Vitória Regina esteve no local.

A cena, é claro, foi transmitida ao vivo por emissoras de televisão, que divulgaram informações sobre o caso durante todo o dia. Cinegrafistas que estavam presentes no local chegaram a se desentender enquanto disputavam espaço na delegacia para fazer imagens dos peritos.

Fotógrafos conseguiram inclusive identificar que um dos fios de cabelo coletados era loiro e enrolado, característica diferente em relação ao cabelo de Vitória, que era preto e liso.

Pai informado ao vivo

Enquanto a polícia divulgava hipóteses sobre o que teria acontecido com Vitória Regina, o pai da menina, Carlos Alberto de Sousa, foi informado ao vivo, durante o programa Encontro com Patrícia Poeta, de que o caso teria sido supostamente esclarecido.

Ao ouvir a história contada pela apresentadora, o homem ficou sem reação e pediu que ela repetisse.

“É um crime passional”, afirmou Patrícia. “Esse Daniel seria namorado do ex-namorado da sua filha. Daniel que tinha um relacionamento amoroso com um ex-namorado da Vitória. Esse Daniel, que o senhor disse que não conhece, teria contado com a ajuda de dois amigos para matar e transportar o corpo da Vitória. Essas são as informações que chegam para a gente”, disse.

Após a repercussão negativa do episódio, a apresentadora se manifestou no Instagram: “E quando nosso foco deveria ser falar sobre combate ao racismo, as pessoas se voltam para picuinhas e deixam um assunto tão importante de lado”.

A suposta conclusão da investigação descrita por Patrícia Poeta não foi confirmada oficialmente pela equipe de investigação ou pela Secretaria da Segurança Pública.

Por Metrópoles

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