Aos 77 anos, a professora aposentada Alaíde Maria Mussato Forato, de Amparo (SP), ainda lida com as consequências de uma “espinha” persistente que brotou em seu nariz quando tinha 32 anos. Após apertada, a saliência começou a inflamar. Preocupada, Forato procurou diversos médicos e dermatologistas que receitaram pomadas, entre outros medicamentos. Mas a suposta acne só continuou aumentando de tamanho.
Como as várias receitas não resolveram seu problema, a paulista foi em busca de médicos em Campinas (SP), onde consultou o Hospital Beneficência Portuguesa. Em seguida, ela foi orientada a ir até outro hospital, em São Paulo.
Na capital paulista, um profissional de saúde resolveu que a “espinha” deveria ser retirada através de um procedimento cirúrgico. “[O médico] não fez nenhum exame, me levou para o centro cirúrgico e fez a cirurgia”, relata Forato, à GALILEU. “Quando eu voltei para casa, ao invés de cicatrizar, [a espinha] foi tomando forma arredondada, como se fosse um ovo. Eu voltei ao consultório e o médico me dizia que era normal, que havia criado gordura no lugar da cirurgia”.
Porém, essa suposta gordura foi aumentando, até que deformou praticamente toda a parte lateral direita do nariz. Diante disso, a professora estadual resolveu consultar outro médico em São Paulo, desta vez, no Hospital do Servidor Público Estadual.
O diagnóstico de câncer de pele
Alaíde Forato foi hospitalizada por dois dias para fazer exames e, após dois meses, recebeu o diagnóstico de carcinoma basocelular (CBC). “Me falaram: a senhora tem um tumor CBC localizado, não tem mais nada em nenhuma parte do organismo, mas esse tumor já está grande”, recorda a paciente.
O CBC representa 75 a 80% dos cânceres de pele, segundo o Grupo Brasileiro de Melanoma. Geralmente, o tumor afeta a região da cabeça e do pescoço. Quando a doença não é brevemente identificada, pode resultar em um tratamento tardio ou inadequado, fazendo com que os pacientes sofram com deformidades, chegando, em casos raros, à metástase (quando o câncer se aloja em outras partes do corpo).
O médico de Forato disse que era necessário realizar outra cirurgia para remover o tumor. “Ela é bastante invasiva, vai tirar uma parte do seu maxilar direito e, infelizmente, a senhora vai perder o olho direito”, disse o médico para a aposentada, segundo ela conta.
“Na hora eu fiquei super nervosa e falei: ‘Eu vou ficar cega?’ Ele [o médico] disse: ‘Não, a senhora tem outra vista, que é a esquerda, mas a direita nós precisamos tirar porque já está contaminado o nervo óptico’”, relata a mulher.
Cirurgia no rosto
A cirurgia, que durou 9 horas, foi realizada em maio de 1984. Quando acordou, Forato notou que boa parte do seu rosto foi atingido. “Eu senti que a minha voz não saía. Aí eu percebi que todos os meus dentes da ala do maxilar superior, que eram perfeitos, haviam sido retirados, e que a minha bochecha também tinha sido atingida”, descreve a paciente. “Eu estava toda envolta em gazes, parecia mais uma múmia do que gente”.
Na primeira cirurgia, tentaram fazer a reconstrução facial com a pele retirada abaixo do seio. “Como não tem a irrigação sanguínea necessária, a pele necrosou, apodreceu, teve que tirar tudo e eu ganhei mais uma cirurgia”, resume Forato.
Em junho de 2023, ela percebeu algo estranho: “Eu senti que a minha testa estava ficando alongada demais, mas eu não sentia dor”, conta. Em seguida, a aposentada retornou ao médico para investigar o que estava acontecendo e descobriu que o tumor estava bastante avançado.
O câncer já se aproximava da meninge, que é uma membrana que envolve o cérebro. Os médicos descartaram a possibilidade de quimioterapia e a única saída foi remover o tumor em uma nova operação cirúrgica.
“Uma cirurgia assim muito, muito invasiva”, considera a sobrevivente do câncer. “A minha cabeça ficou praticamente dividida em duas partes e, obviamente, eu fiquei careca. Eles [os médicos] conseguiram retirar praticamente todo o tumor. Só não conseguiram retirar aquele que estava bem próximo da meninge, mas porque se mexessem ali eu teria problemas motores”.
Após o procedimento, Forato passou por 25 sessões de radioterapia, que queimaram quase 2 centímetros do seu osso craniano. “Quando a cabeça estava quase cicatrizando, começou a doer muito a face. Não tinha como fazer a retirada desse osso, não tinha o que fazer”, afirma a aposentada, que acabou internada novamente, em setembro de 2024, para uma cirurgia na face com enxerto.
Os médicos realizaram a raspagem do osso até que ele sangrasse. “Sangrar era sinal de que toda aquela [área] infectada estava livre”, diz a paciente. “Depois, fizeram um enxerto, raspando uma parte da minha pele da coxa. A raspagem é como se estivesse ralando queijo”, compara.
Por: Revista Galileu