Uma pesquisa publicada na revista Nature Medicine, em fevereiro, revela que o tecido cerebral humano contém quantidades significativas de microplásticos e nanoplásticos (MNPs), com concentrações ainda maiores em indivíduos diagnosticados com demência.
O estudo, conduzido por pesquisadores da Universidade do Novo México, nos Estados Unidos, aponta que o acúmulo dessas partículas pode ter implicações preocupantes para a saúde neurológica.
De acordo com os cientistas, os cérebros analisados apresentavam, em média, o equivalente a uma colher de chá de microplásticos. Em indivíduos com demência, os níveis eram de três a cinco vezes maiores. Além disso, a concentração de MNPs no cérebro foi de sete a 30 vezes superior à encontrada em outros órgãos, como fígado e rins.
Outro dado alarmante é o aumento expressivo dessas partículas no tecido cerebral ao longo dos últimos anos. “O aumento dramático nas concentrações de microplástico cerebral de 2016 a 2024 é particularmente preocupante”, alerta o cientista Nicholas Fabiano, do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Ottawa. Embora não tenha participado do estudo, ele comentou sobre o artigo na revista Brain Medicine.
Como os microplásticos afetam o cérebro?
Os cientistas alertam que partículas de microplástico menores que 200 nanômetros, principalmente de polietileno, conseguem ultrapassar a barreira de proteção do cérebro e se acumular nas paredes dos vasos sanguíneos e em células do sistema imunológico.
Isso levanta preocupações sobre como essa exposição pode influenciar o desenvolvimento de doenças neurológicas, como a demência.
Como reduzir a exposição aos microplásticos?
O comentário publicado na Brain Medicine sugere medidas práticas para minimizar a ingestão de microplásticos. Um dos principais conselhos é substituir a água engarrafada pela filtrada da torneira.
“A água engarrafada pode expor as pessoas a quase tantas partículas de microplástico anualmente quanto todas as fontes ingeridas e inaladas combinadas”, explica Brandon Luu, da Universidade de Toronto. Seguindo essa orientação, a ingestão anual de microplásticos pode ser reduzida de 90 mil para cerca de 4 mil partículas.
Outras fontes de contaminação comuns são os saquinhos de chá feitos de plástico, que liberam milhões de partículas micro e nanométricas durante o preparo, e o aquecimento de alimentos em recipientes plásticos, especialmente no micro-ondas.
“Evitar o armazenamento de alimentos em plástico e optar por alternativas como vidro ou aço inoxidável é um passo simples, mas significativo, para reduzir a exposição”, acrescenta Luu.
O futuro das pesquisas
Os especialistas ressaltam que ainda são necessários mais estudos para determinar se a redução da ingestão de microplásticos resulta em menor acúmulo no organismo humano. Além disso, pesquisas estão explorando possíveis formas de eliminá-los, como pela transpiração.
“Precisamos entender melhor os efeitos dos microplásticos antes que seja tarde demais. Essa pode ser uma das maiores ameaças ambientais que a maioria das pessoas ainda não percebeu”, alerta o médico David Puder, do podcast Psychiatry & Psychotherapy.
O estudo reforça a necessidade de definir limites seguros de exposição e entender os impactos de longo prazo para a saúde. Enquanto isso, pequenas mudanças no dia a dia já podem ajudar a reduzir os riscos.
Por: Metrópoles