Com a proximidade da Páscoa, as prateleiras dos supermercados e das lojas são tomadas por ovos e mimos de chocolate. Popular, na versão amarga traz mais benefícios para a saúde, se consumido da forma correta, graças a alguns componentes, como polifenóis, ele tem ação antioxidante, e anti-inflamatória. Em um novo estudo, divulgado recentemente na revista ACS Food Science & Technology, pesquisadores do Instituto Walter e Eliza Hall, na Austrália, sugerem que incluir pré e probióticos no doce pode deixá-lo mais saudável. Mas os aromatizantes presentes na composição interferem nas suas propriedades, como umidade e o teor de proteína do produto.
Os probióticos — encontrados em alimentos fermentados como iogurte, melhoram o microbioma intestinal, modulando o equilíbrio de bactérias. Eles também podem aliviar problemas digestivos e reduzir a inflamação. Essas culturas precisam de alimentos e proteção para sobreviver no ambiente intestinal, então, prebióticos são adicionados a produtos.
Pela popularidade do chocolate, os cientistas testaram várias combinações de pré e probióticos nesse doce. Para facilitar a criação dessa receita saudável, Smriti Gaur e Shubhi Singh, líderes da pesquisa, exploraram prebióticos que não precisavam de um processamento extensivo — milho e mel — em chocolate fortificado com probióticos.
Cinco tipos
Os pesquisadores criaram cinco tipos de chocolates. O primeiro foi feito somente com ingredientes básicos, incluindo manteiga de cacau, cacau em pó e leite em pó. Quatro amostras diferentes de teste simbiótico também continham prebióticos (obtidos a partir do milho e do mel), um probiótico — Lactobacillus acidophilus La-14 ou Lactobacillus rhamnosus GG — e um aditivo de sabor, que poderia ser canela ou laranja.
Quando a equipe avaliou as diferentes propriedades das amostras de chocolate, descobriu que os níveis de gordura, que influenciam a textura e a sensação na boca, eram consistentes entre todos os cinco exemplares. No entanto, houve diferenças bastante expressivas.
Os aromatizantes modificaram algumas características. Aqueles com toques de laranja diminuíram o pH, aumentaram a umidade e melhoraram os níveis de proteína em comparação com todas as outras amostras. Os quatro produtos simbióticos apresentaram níveis mais altos de antioxidantes do que o doce comum, sem pre e probióticos.
Os alimentos modificados tinham menos estalo — que avalia a crocância e a secura — em comparação ao controle, sugerindo que os ingredientes adicionais perturbaram a estrutura do chocolate. As contagens microbianas totais das amostras dos doces simbióticos diminuíram durante o armazenamento, mas os micróbios probióticos ainda estavam viáveis após 125 dias de armazenamento. Esse período é maior do que outros pesquisadores relataram ao usar diferentes bactérias e prebióticos em experimentos semelhantes.
Os cientistas expuseram os chocolates modificados a condições gastrointestinais simuladas, os probióticos nas amostras mantiveram viabilidade substancial por mais de 5 horas. “Pessoalmente, nós gostamos mais dos chocolates com sabor de laranja, em que as vibrantes notas cítricas complementavam o rico cacau, e ele tinha uma textura um pouco mais macia que fazia cada mordida parecer mais luxuosa”, sublinhou Gaur.
Vantagens
Gabriel Moliterne, nutricionista especialista em nutrição clínica, avaliação, epidemiologia e intervenção do Hospital Albert Sabin, em São Paulo, ressaltou vantagens dos chocolates amargos, com alto teor de cacau. “Eles contêm flavonoides, compostos com propriedades cardioprotetoras, anti-inflamatórias e antitrombóticas. Pode ajudar a diminuir a pressão arterial. Além de auxiliar na memória e na função cognitiva.”
Segundo Jamilly Drago, endocrinologista da clínica Metasense, em Brasília, o chocolate, principalmente 70%, o cacau, é também um excelente antioxidante. “Ele aumenta a saciedade do doce, melhora a cognição e tem um pouco de cafeína, então ele tem essa melhora da cognição, do alerta e deixar a pessoa com mais energia. O produto 70% cacau está presente em vários tipos de dieta e no acompanhamento de algumas patologias.”
No entanto, Moliterne alerta para o consumo errado. “O alto teor calórico facilita o ganho de peso. Além disso, o consumo excessivo pode causar alguns desconfortos, como diarreia ou dor abdominal. Devido ao conteúdo de cafeína e teobromina, o consumo de chocolate antes de dormir interfere no sono, causando insônia ou prejudicando a qualidade do descanso.”
“No futuro, estamos animados para explorar benefícios adicionais à saúde desses chocolates enquanto investigamos minuciosamente seus perfis sensoriais e nutricionais, com o objetivo de criar uma guloseima ainda mais saudável e agradável”, finalizou Gaur.
Mais estudos
“Se futuramente esse chocolate simbiótico provar realmente ser saudável, haverá um ponto positivo para a indústria de alimentos. Mas esse estudo precisa ser feito em um período mais longo, é necessário para confirmar tudo isso durante um tempo. Então, a adição do probiótico no chocolate não garante automaticamente que vai se tornar um alimento saudável. Outros fatores como o teor de açúcar e processamento também influenciam no impacto da saúde. Esse estudo abre caminho para futuras pesquisas. Tem que aprofundar mais o conhecimento sobre os alimentos simbióticos e sua eficácia na saúde intestinal.”
Carla Bispo, nutricionista clínica, em Brasília
Por: Correio Braziliense