Os dois filhos de Yara Paulino da Silva, de 10 e 2 anos, viram a mãe sendo linchada até a morta na última segunda-feira, 24, no Conjunto Habitacional Cidade do Povo. As informações foram confirmadas pelo Ministério Público do Acre (MPAC). Agora, as duas crianças estão sob responsabilidade de uma tia materna, abrigada no Parque de Exposições Wildy Viana por conta da cheia do Rio Acre, em Rio Branco.
O coordenador adjunto do Centro de Atendimento à Vítima (CAV) e titular da Promotoria Especializada de Defesa dos Direitos Humanos e da Cidadania, promotor de Justiça do MPAC Thalles Ferreira, informou que as crianças estão abaladas emocionalmente, e que a família está sendo atendida por psicólogos e assistentes sociais do Centro de Atendimento à Vítima (CAV).
“Demorou um pouco para elas poderem se estabilizar e terem um atendimento humanizado. Elas foram ouvidas pela psicóloga, pela assistente social, tiveram confiança ali, puderam ficar até que a tia providenciasse todo o velório”, disse em entrevista ao G1.
Thalles Ferreira destacou ainda a importância dessas medidas para garantir a proteção das crianças e alertou sobre os perigos da desinformação. “Esse caso também serve como um alerta sobre os perigos das fake news. Uma pessoa perdeu a vida possivelmente devido a mentiras espalhadas na comunidade. O MPAC não tolera esse tipo de ação, baseada no discurso de ódio e na justiça com as próprias mãos. Vivemos em um Estado Democrático de Direito, e cabe à Justiça apurar os fatos dentro da legalidade”, pontou.
Relembre o caso
Yara Paulino da Silva, de 27 anos, foi morta a golpes de ripa e de machado na tarde de segunda-feira, 24, após boatos de que teria matado a própria filha, de apenas 3 meses, e teria jogado o corpo em uma área de mata na quadra 5E, na rua Balão Barros, no Conjunto Habitacional Cidade do Povo.
A mãe, que segundo informações seria usuária de drogas, foi linchada até a morte pela população em via pública, na rua Dom Próspero Bernardi. Segundo testemunhas, Yara estava separada do marido, Ismael Bezerra Freire, há duas semanas, e estava acusando ele de ter roubado sua filha de 3 meses.
A população informou que teria encontrado, na tarde desta segunda-feira, o suposto corpo da menina de 2 meses em um saco de ração. Faccionados, então, teriam ido até a casa da mulher e iniciado as agressões com golpes de ripa e machado. Yara ainda correu para a rua, mas seguiu sendo linchada até a morte. Após o crime, os envolvidos fugiram.
Nesta terça-feira, 25, durante coletiva de imprensa, a Polícia Civil informou que os suspeitos já foram identificados e são pessoas ligadas a facções criminosas. Segundo um dos delegados responsáveis pelo caso, Alcino Ferreira, Yara foi morta pelo chamado “Tribunal do Crime”.