A dona de casa Joselita Miranda, de 56 anos, mora há duas décadas na Rua do Passeio, no Bairro Taquari, em Rio Branco. Sua residência é alta e, por isso, ela só precisou abandonar o próprio lar uma única vez durante as inúmeras enchentes do Rio Acre que enfrentou ao longo da vida.
Na alagação deste ano, a mulher segue em casa, mesmo com a água na varanda e no quintal. Porém, o fato de não precisar ir para um dos três abrigos públicos montados pela prefeitura não significa que Joselita esteja livre do sufoco que é lidar com as enchentes cada vez mais frequentes do manancial.

Nesta semana, quando o rio registrou 15,88 metros de profundidade – quase 2 metros acima da cota de transbordamento -, a dona de casa se viu ilhada, tendo que caminhar até 40 minutos pelas águas sujas e barrentas até chegar à área seca para, por exemplo, comprar mantimentos.
“Ando uns 30 minutos ou mais, na pernada, até chegar em casa. Se você andar ligeiro, gasta esse tempo, mas se não andar rápido leva uns 40 minutos. A gente está ilhado”, lamenta Joselita, que diz não ter condições financeiras para adquirir outro imóvel em área que não alaga durante o período chuvoso.

Outra dificuldade enfrentada por quem opta por ficar em casa durante a enchente são as doenças típicas de locais alagadiços. A dengue é uma delas. “Já peguei. É aquela febre alta e dor de cabeça. Está com um ano que eu fiz uma cirurgia e ainda bem que não foi em época de alagação. Senão, eu estava ferrada!”.
Mesmo sem precisar sair de casa, Joselita já perdeu vários móveis ao longo de sua vida no bairro Taquari, um dos primeiros a serem afetados quando o Rio Acre transborda. Questionada se gostaria de receber uma casa nova do poder público, ela não hesita: “Seria maravilhoso, né? Quem é que não quer uma casa nova…”.

Nesta quarta-feira, 19, o Rio Acre segue com tendência de diminuição no nível, registrando, na medição das 9h, 15,39 metros, quase meio metro a menos que o pico registrado na atual alagação. Porém, a situação do manancial ainda preocupa, isso porque há previsão de chuvas fortes para os próximos dias na região.
Quarenta e três bairros foram atingidos pelas águas do rio e afluentes. O total de famílias atingidas chega a quase 8.700. Cerca de 170 estão em abrigos até que as águas baixem e suas residências estejam seguras para o retorno.
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