No meio do ano, o Parque de Exposições Wildy Viana, em Rio Branco, se torna palco da maior feira agropecuária e de negócios do estado: a Expoacre. No entanto, em março, o que o lugar abriga vai muito além de números e negócios. No local, famílias atingidas pelas cheias do Rio Acre buscam abrigo, e enfrentam a dura realidade de perderem tudo e se refugiarem em um local improvisado, longe da tranquilidade das casas.
A GAZETA conversou com dois desses moradores que estão abrigados no local e que contaram as histórias de resistência e superação. Maria de Fátima Silva e Jamily Lopes compartilharam o drama de terem que deixar suas casas em meio à enchente do manancial na capital.
“Só o que conseguimos trazer foram alguns poucos pertences”, revela dona Maria de Fátima, enquanto conta que, após ser retirada de sua casa ilhada pelas águas do Rio Acre, no Bairro Seis de Agosto, trouxe apenas o que deu para carregar. “Eu saí com as crianças, e meu filho ficou para tentar salvar mais coisas. O resto ficou lá, onde as águas já tomaram de conta,” completou.
Ela conta que a situação nos abrigos não é fácil, mas elogia o atendimento. “Foi muito bom, não tenho o que reclamar da equipe. Eles estão fazendo o possível.”
Já dona Jamily, que está no Parque de Exposições pela terceira vez devido às enchentes recorrentes, tem um desejo semelhante ao de muitos outros: “Eu só quero uma casa, uma casa que seja nossa, para não passar mais por isso”. Segundo ela, todos os anos é a mesma luta. “Nós estamos cansados de sofrer com as alagações, sempre enfrentamos esse risco, com cobras aparecendo e tudo mais. Precisamos de uma solução definitiva, não podemos viver dessa maneira para sempre,” desabafou.
Em cada um dos boxes, as famílias fazem uma pequena residência. Há espaço para comida, para dormir, para se alimentar e até para alimentar a fé, como no caso de dona Jamily. Ao lado dos remédios, há uma bíblia. “Gostamos de manter bem organizado”, explica.
Ela também revelou que, apesar de receber um auxílio doença, por conta de uma esquizofrenia, essa é a única fonte de sustento para a sua família de três pessoas. “Vivemos só desse auxílio, mas não é o suficiente. A gente precisa de mais para viver com dignidade”, finalizou.
Nível do rio segue baixando
Após a subida dos últimos dias, o nível do Rio Acre, em Rio Branco, começou a baixar nesta terça-feira, 18, e às 13 horas, já marcava 15,71, ou seja, 17 centímetros a menos que o registrado às 18 horas desta segunda-feira, 17, quando as réguas chegaram aos 15,88 metros.
Em Rio Branco, segundo dados da Defesa Civil Municipal, há três abrigos ativos, com 169 famílias desabrigadas e uma estimativa de 598 famílias desalojadas. Ainda de acordo com a Defesa Civil, há 19 comunidades atingidas, e 2.198 famílias rurais. Na zona urbana, são 43 bairros atingidos.
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