“Já temos suspeitos identificados, são pessoas ligadas a facções criminosas e não vamos dizer a quantidade de suspeitos para não atrapalhar as investigações”. Foi com estas palavras que o delegado de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Dr. Alcino Ferreira Júnior, começou a coletiva de imprensa para falar acerca do assassinato de Yara Paulino da Silva, de 27 anos, ocorrido nesta segunda-feira, 24, no conjunto habitacional Cidade do Povo.
Segundo o delegado, a mulher foi morta pelo chamado “tribunal do crime”, após boato de que ela teria matado a própria filha, um bebê de três meses. Isto porque os restos mortais de um animal, encontrado em um terreno no conjunto habitacional dentro de um saco de ração, foram confundidos com o de um bebê. Após os restos terem sido encontrados, faccionados entraram na casa de Yara, a torturaram e a mataram em via pública.
“Após sabermos do assassinato de Yara, notícias começaram a circular, tanto na imprensa quanto no ambiente social, de que a motivação desse homicídio – a gente pode até dizer uma tortura com resultado qualificado pela morte, talvez uma ‘disciplina’ – teria tido como causa a morte do próprio filho, como se aquela mulher tivesse matado o próprio filho, que estaria desaparecido há cerca de três semanas” começou Alcino, reiterando, ainda, que as notícias foram passadas como certas para a população. “Nas primeiras verificações, no contato com testemunhas, a Polícia Técnica e o IML foram até o local e recolheram esse saco, que teria, em tese, restos mortais humanos. Imediatamente, no entanto, já foi constatado de que não se tratava de restos mortais ou ossada humana, e sim de um animal, provavelmente, um cachorro”.
Agora, segundo a Polícia Civil, há uma investigação iniciada, conduzida pelo delegado Leonardo Ribeiro, que informou ainda que testemunhas que presenciaram os crimes já foram ouvidas. Além disso, ele informou que a criança, que teria nascido há, aproximadamente, três meses, não chegou a ser registrada e ainda não tem nome. “Essa notícia foi veiculada pela própria mãe, agora morta, e se dizia que o pai poderia ter sido o autor do rapto da própria filha”, enfatizou Leonardo, acrescentando que o fato não era de conhecimento das autoridades, não havendo, inclusive, sequer um boletim de ocorrência quanto ao desaparecimento do bebê.

“Pelo que o pai contou para nós ontem e hoje, não há uma certidão de nascimento: essa criança saiu do hospital, e por uma questão de incongruência de documentação dos pais, foi negado o registro dentro de um cartório aqui na cidade, e, até então, os pais não voltaram para sanar esse problema, e essa criança, pelo menos, teoricamente, ela não existe para os registros oficiais”, enfatizou, descartando que o linchamento teria sido feito por populares. “Testemunhas apontaram que a tortura iniciou ainda dentro da casa da vítima, por pessoas específicas”.
Ainda segundo a Polícia, a partir de agora, o caso do bebê é tratado como desaparecimento. “Por não existir um boletim de ocorrência, nós não tínhamos conhecimento desse suposto rapto ou desaparecimento”, enfatizou Leonardo.
Ao final, o delegado Alcino Ferreira reforçou que a Cidade do Povo tem sido um lugar em que estão sendo feitas diversas prisões. “Falta o Estado estar presente dentro dos lugares. Não é sobre polícia e nem sobre Segurança Pública, é sobre a presença do Estado em si dentro desses lugares. Quando a gente traz uma pauta dessa, que parece ser de Segurança Pública, não é de Segurança Pública apenas: precisamos que o Estado, enquanto poder, esteja lá dentro”, enfatizou.
Alcino pede ainda que, caso haja filmagens do espancamento de Yara, estas sejam enviadas à Polícia Civil. “Fale conosco, pode ser de forma anônima, por meio do número (68) 99912-2964. É um Whatsapp, e você pode enviar de forma anônima”, enfatizou.
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