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É o puro creme do milho

Ontem eu deitei umas 10h da noite. Tinha tirado um cochilo das 7h às 9h. Não recomendo. Acordei confusa, com sede, ainda mais cansada e se me perguntasse o meu nome, provavelmente eu demoraria pra responder.. Pensei que faria sentido uma meditação guiada pra entrar no sono grandão e, quem sabe, não acordar às 4h como tem acontecido quase todos os dias desde a chegada da viagem.

Quando na viagem, fiquei impressionada com o silêncio. Havia silêncio disponível até no metrô. Faz-se urgente experimentar uma quantidade menor de decibeis em minha vida, pensei. Tenho tentado. Ocorre que moro em uma avenida com barulho de ônibus, de moto, de comemorações dos jogadores de beach tênis na quadra da frente (que oferece turmas desde às 5h da manhã, que tal?), de reformas no próprio prédio e de  um prédio inteiro sendo construído no terreno vizinho de muro. Se for mês de carnaval tem trio elétrico na rua de trás e, em qualquer mês do ano, inclusive no do carnaval – quase esqueci de dizer – tem o carro da pamonha, o do chocolate, o do morango e o do ovo. Todo dia. Mais de uma vez por dia.

Aí eu na cama às 10h da noite ouvindo a meditação guiada. O moço falava tão arrastado, tão arrastado, que eu botei no 1,5x – pra vocês posso contar. Eu lá, dando o melhor de mim pra pensar no azul-claro brilhante que ocupava meu corpo na inspiração e no laranja-amarelado que ocupava o mundo na expiração, passa uma moto com escapamento a milhão. Cai azul, laranja e amarelo pra tudo que é canto. Demorou uns 3 parágrafos do moço pra eu reorganizar. E assim foi até ele mandar um namastê.

Respondi concorrendo com o barulho de um caminhão desbalanceado e peguei no sono. Tive o melhor sonho dos últimos tempos. Eu estava sentada no gramado que o moço descrevia depois do esquema do azul-claro em posição de lótus e com uma roupinha esvoaçante daquelas que o povo usava no céu da novela A Viagem. Éramos eu, a Christiane Torloni, o Antônio Fagundes. Todo mundo concentradinho, cabelos ao vento. Quem falava com a voz do professor era Guilherme Fontes, que não estava de preto. Ele lá mandando a gente inspirar profundo, e alongava o “un” profuuuuuuuundo. A gente, quase que hiperventilando, obedecia. Até que anunciava o momento dos mantras e repetia na velocidade 0,5x. Pamonha, pamonha, pamonha, pamonha de piracicaba, é o cural de pamonha, é o puro creme do miiiiiiiiilho. Fazia vrum, vrum, vrum, feito criança imitando motor de carro. A gente repetia. Depois, gritava ponto, ponto, poooonto e emendava um “eu falei faraóoo, êeeeeeeeee, faraó. Acordei às 4h de novo. Mas pelo menos, acordei rindo. Força, foco e fé pra gente, galera. Vou tentar deitar às 9h hoje. Depois, eu conto.

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