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Qual é o seu perfil de investidor?

O Bitcoin está em alta. Tá vendo, Rô? Eu te disse que valia a pena investir, me diz (e me disse mesmo) meu analisando das 8h da manhã de ontem. Pedi que ele explicasse um pouquinho melhor como funciona (pra ele) o Bitcoin. É o que fazem os analistas na maior parte do dia. Perguntam. Dos temas que já sabem de trás pra frente e dos outros sobre os quais entendem bulhufas. A gente pergunta pra abrir terreno. Na resposta, o analisando desmonta o discurso e diz de si, do que sente, do que pensa.

De Bitcoin entendo bulhufas, embora já tenha ouvido essa explicação 500 vezes – parece que é meio moda entre o povo que frequenta meu consultório fazer esse tipo de investimento. A fala quase sempre começa com o básico do “é uma criptomoeda” e termina cada um pra um lado porque o interesse da escuta tem muito mais a ver com o investimento psíquico (libidinal) do que com o financeiro.

Nunca investi em criptomoeda. Mas amo criptograma, aqueles da Coquetel, sabe? Funciona um pouquinho como criptomoeda. Você não tem grandes certezas, mas há pistas. É preciso apostar. Na criptomoeda não dá pra cravar se vai subir ou descer, nem quando, nem quanto; se vale a pena tirar agora ou colocar mais dinheiro pra tirar depois. No criptograma, numa língua cheia de sinônimos feito a nossa, às vezes uma escolha errada muda o rumo da página inteira e olha que a página é de papel jornal e apagar sem rasgar é quase tão arriscado quanto o bitcoin.

Passei o dia pensando nisso, nos riscos, nas demandas  e nos ganhos de um investimento. Desde os mais administráveis como uma escolha profissional, a compra de um imóvel, aos mais complexos como os que dizem respeito aos relacionamentos, ou a decisão de ter um filho, os quandos, os com quem, e os comos.

Meu analisando das 8h veio ao consultório para fazer terapia de casal. Estavam diante de alguns desses dilemas complexos. Tentaram, mas acabaram se separando. Ele voltou anos depois para começar uma análise. Anda escrevendo novas páginas, novas combinações de letras. Apaga devagarzinho quando é preciso, com cuidado pra não rasgar, mas sabendo que restarão as marcas. Tem dias que me conta da ex-companheira. Está ótima, teve gêmeos em julho. Lhe quer bem. Também viu crescer a barriga da companheira atual (mais de uma vez, inclusive), tem se aprofundado nas próprias questões, feito as elaborações possíveis. Sei lá, às vezes também tenho vontade de lhe dizer “tás vendo, vale a pena investir”. Boa semana, queridos.

 

 

 

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