Descobrir que a loteria não registrou a aposta supostamente ganhadora de R$ 201,9 milhões na Mega-Sena fez o sonho da dona de ótica Mara Hoffmann se despedaçar. Ao ver o sorteio, ela contou em entrevista exclusiva à coluna que não sabia se se alegrava ou chorava. A empresária se dirigiu à casa da mãe, onde passou a virada de 28 para 29 de setembro de 2022 acordada com a família – ninguém dormiu.
Mara seria a única vencedora do sorteio da Mega-Sena na data. A vitória, por sua vez, sairia numa cidade de 33,7 mil habitantes no sertão da Paraíba: São Bento, a 294,1 km da capital João Pessoa.
“No outro dia (29/9), foi quando tudo desabou. Eu tive uma frustração que não foi fácil”, relatou.
No concurso 2524, de 28 de setembro de 2022, jogou as seguintes dezenas: 03, 20, 22, 23, 37, 41 e 43. Nenhuma aposta registrada acertou todos os números – Mara, portanto, seria a única vencedora da Mega-Sena. Além dela, também jogou na Quina (04, 23, 38, 53 e 58) e na Lotofácil (04, 06, 08, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 21, 22 e 25).
A empresária conta que sonhou com os números sorteados antes de marcar a aposta. “Foi em um sonho que Deus me deu, anotei os números de madrugada”, disse a apostadora.
Apesar de pequeno, a empresária considera o município perigoso e conta até mesmo que já teve a casa e a loja assaltadas. Esse pensamento reflete no medo sentido ao ver que a história de uma possível milionária – a história dela – se espalhou pelo município.
“Eu fiquei com muito medo, porque, de repente, a cidade não falava de outro assunto a não ser esse. E as pessoas me conhecem aqui”, contou a empresária. “Fiquei apavorada, não saía mais de casa”, completou.
Tudo isso porque a funcionária que a atendeu na loteria não teria registrado a aposta supostamente vencedora da Mega-Sena. No lugar dela, a atendente teria passado duas vezes o da Quina e grampeado o respectivo comprovante. Mara só teria notado o erro antes do sorteio.
“Ela (a funcionária) não estava prestando muita atenção (ao registrar os jogos), não. Era o tempo todo no celular e fazendo o trabalho dela”, relembrou.
Um dia após o sorteio da Mega-Sena, a dona de ótica teria retornado à lotérica, conversado com a gerente e visto as imagens das câmeras de segurança, que, segundo a empresária, atestaram o erro da funcionária ao não registrar o bilhete supostamente ganhador. Uma cópia dessa filmagem, porém, não teria lhe sido concedida.
A dona de ótica, então, acionou o Tribunal de Justiça da Paraíba (TJPB) em 30 de setembro de 2022 para ter acesso às imagens e aos dados das apostas. Na visão da defesa, que consta no processo obtido pela coluna, seria uma produção antecipada de provas para comprovar os fatos. Mara também registrou boletim de ocorrência.
A Justiça paraibana acatou a solicitação em 1ª instância em fevereiro passado. Antes disso, a apostadora apresentou declaração de pobreza para pedir gratuidade judicial – que acabou negada.
“Desta forma, diante da desagradável sensação de injustiça e da necessidade de um pronunciamento judicial, mesmo sem ter condições financeiras para suportar os dispêndios processuais, a parte autora, ingressa com esta ação com a intenção de se valer dos benefícios da JUSTIÇA GRATUITA, ficando isenta de arcar com quaisquer ônus ou despesas processuais”, diz a petição inicial.
A loteria contesta os fatos e, por isso, recorreu da decisão. De acordo com a defesa, as imagens das câmeras de segurança não estão mais disponíveis porque são apagadas a cada 6 meses. Assim, trataria-se de uma produção impossível de provas.
Constam imagens dos bilhetes da Mega-Sena, da Quina e da Lotofácil no processo.
Enquanto a mulher usa essas imagens para provar a própria versão dos fatos, a lotérica rebate:
“Ao se observar a forma como foi grafada e marcada as apostas no espelho da aposta, vemos que justamente a da MEGA-SENA é diferente das outras, deixando claro que foi feito posteriormente. Outro fato interessante é quando vemos o local onde foi grampeada a aposta, nas apostas realizadas vemos que foram grampeadas na lateral de cima do lado esquerdo, e justamente na da MEGA-SENA, se destacou o espelho original, se colocou um feito posteriormente e se grampeou no centro do bilhete”, sustenta a defesa do estabelecimento.
O valor pago pelo bilhete também é questionado. “Por fim de forma a arrematar o aqui aduzido, se materializa no valor da aposta, pois segundo o espelho da MEGA-SENA anexado, vemos que foram marcados 07 números, assim sendo, só esta aposta seria R$ 31,50. Diferente dos R$ 11,00 cobrados, referente a todas as apostas realizadas”, complementa.
Mara disse à coluna que não tem esperanças de reaver o prêmio da Mega-Sena, mas quer que a Justiça seja feita. “Eu, hoje, poderia estar com minha vida totalmente mudada”, lamentou.
Sobre o sorteio da Mega-Sena
À época, o prêmio de R$ 201,9 milhões era considerado um dos maiores da Mega-Sena, próximo ao da Mega da Virada de 31 de dezembro de 2020. Como ninguém acertou as seis dezenas, o montante acumulou pela 14ª vez consecutiva.
Segundo a Caixa, 404 apostas ganharam a quina (cinco acertos), no valor de R$ 43.914,62 na data. Outros 30.194 jogos fizeram a quadra (quatro acertos) e receberam R$ 839,40.
Por: Metrópoles