Quando o rio-branquense acordou, há um mês, talvez não imaginasse que iria ver um dos crimes mais brutais já registrados no Estado. Yara Paulino da Silva, de 27 anos, foi linchada até a morte, com golpes de ripa e de machado, no dia 24 de março, no conjunto habitacional Cidade do Povo, por supostos membros de facção criminosa. O motivo? A falsa acusação de assassinato da própria filha – hoje nomeada como Cristina Maria – que, à época, tinha aproximadamente dois meses.
Faz-se necessário, neste caso, o uso do aproximadamente. É que Cristina Maria não possuía certidão de nascimento, e a sua existência, agora, é comprovada apenas por registros da maternidade onde nasceu, dando conta que sim, uma menina havia nascido poucos meses antes.
Antes de ser morta, Yara havia dito que a filha estava sumida, tendo sido supostamente sequestrada pelo pai entre duas e três semanas antes. Em entrevista exclusiva ao site A GAZETA nesta quinta-feira, 24, o delegado responsável pelas investigações, Alcino Ferreira, informou que também desapareceram as roupinhas da bebê, o que cria uma incógnita: a pequena Cristina Maria foi mesmo sequestrada? Ou teria sido dada?

O delegado foi enfático em dizer que a polícia está completamente focada em solucionar o crime de Yara e encontrar a pequena Cristina, que, para a Polícia Civil, ainda está viva. Mais informações, no entanto, como se a criança está no Acre e quantas pessoas foram ouvidas até o momento no inquérito não foram divulgadas para não atrapalhar o andamento das investigações.
“Não foram populares que a mataram, como foi inicialmente especulado, mas membros de facção. Encontraram restos mortais em um matagal na Cidade do Povo, mas se tratava de um animal”, explica Alcino, acrescentando que, inicialmente, causou estranheza a falta de preocupação dos familiares da pequena Cristina Maria em relação ao desaparecimento da pequena. “Não havia notificação no início, o pai não tem noção de quando a criança desapareceu, o que causou estranheza e fugiu ao padrão”. Alcino, no entanto, confirmou: o caso será solucionado.
O outro lado: o que diz a família?
A GAZETA também conversou com Rute Bezerra, irmã do pai de Cristina Maria e tia da recém-nascida. A família, ainda segundo Rute, também não tem mais informações sobre o caso. “A polícia não nos dá maiores informações. Gostaríamos realmente de saber como andam as buscas por ela [por Cristina Maria], também queremos respostas”, diz.
No último dia 8, a família fez, por um tempo, buscas pela bebê: cartazes com o rosto de Cristina Maria foram pregados em pontos estratégicos da cidade, como o Terminal Urbano de Rio Branco e pontos de ônibus próximos à Cidade do Povo e Santa Inês.
As buscas, no entanto, não tiveram prosseguimento. Sem respostas, a família optou por esperar o andamento do trabalho da Polícia Civil. Além disso, os julgamentos, ainda segundo Rute, têm sido difíceis. “A população também só vai julgando a gente, só só vai julgando meu irmão também [pai de Cristina Maria]. Dizem que a gente está com a neném, que a gente não está nem aí, que a gente não está indo atrás. Aí fica difícil pra gente”, enfatizou.
Cadastro no Amber Alert
Desde o seu desaparecimento, Cristina Maria está inserida no Amber Alert – sistema de alerta criado nos Estados Unidos, que foi adotado por diversos países, incluindo o Brasil. O programa tem como principal objetivo divulgar rapidamente informações sobre o desaparecimento de crianças em situação de risco, como sequestros, rapto ou outras circunstâncias que envolvem perigo iminente à vida da criança.

Cristina é a segunda criança no sistema. A primeira criança foi encontrada em agosto do ano passado, segundo informações do delegado da Polícia Civil Nilton Boscaro. À GAZETA, Boscaro informou que o Departamento de Inteligência da Polícia Civil é o ponto focal do Amber Alert no Acre, destacando a importância da colaboração entre as autoridades e a população.
Há um mês, não apenas a família de Cristina Maria não tem uma solução sobre os fatos, mas a sociedade também segue sem respostas. Para além de um ser humano que morreu, há ainda perguntas: por que Cristina Maria não apareceu até agora? Quem está com a criança? Onde ela está?