No Dia das Mães, neste domingo, 11, enquanto muitas comemoram com flores, almoço e homenagens, Saana Monteiro celebra com luta, resistência e propósito. Mãe solo de uma criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA), ela encontrou no amor pelo filho a força para enfrentar um sistema que, nas suas palavras, “nega até o básico”. Foi batendo de porta em porta, ouvindo sucessivos “nãos” ao tentar matricular o filho numa creche com vaga legalmente garantida, que nasceu sua voz ativista. “Não fui atrás de privilégios, fui atrás do que era direito”, afirma.
A GAZETA conversou com Saana, que comentou que, desta vivência dolorosa, surgiu um projeto de lei sobre percentual de vagas para crianças com deficiência — proposta que ela mesma levou à Câmara Municipal de Rio Branco para ser apresentada. “Foi aí que eu entendi que o silêncio do sistema precisava ser quebrado com luta. E comecei a ter voz junto com outras mães que estavam caladas, mas vivendo a mesma realidade”.
Saana não parou. Com formação em Educação Física, especialização em Educação Inclusiva e Neuropsicopedagogia, e atualmente estudante de Terapia Ocupacional, ela vê na qualificação profissional uma forma de legitimar ainda mais sua atuação. “A educação inclusiva não é um enfeite de projeto público, é um direito constitucional. Eu vejo a criança como um todo: corpo, mente, afeto e potencial.”
Hoje, lidera um projeto jurídico com mandados de segurança que já garantiu liminares e alvarás para o acesso de dezenas de crianças à terapia — mesmo que isso signifique lutar judicialmente por um direito básico. “A gente tem mais de 200 mães para entrar no projeto. A cada dia, cresce. Graças a Deus, está ganhando visibilidade, e a gente vai continuar lutando.”
Mesmo com avanços, ela reconhece que as escolas ainda estão longe do ideal. “O discurso é bonito, mas não há formação continuada, nem acessibilidade real. Incluir não é um favor, é responsabilidade legal e humana.”
A ativista também é enfática ao falar do maior desafio enfrentado pelas famílias atípicas: o cansaço de ter que provar o tempo todo que seus filhos merecem existir com dignidade. “É terapia, laudo, filas, julgamentos. É como se tivéssemos que justificar o tempo inteiro o direito de viver com respeito.”
Apesar do peso da jornada, Saana encontra força nas pequenas vitórias. “Cada conquista do meu filho, cada mãe acolhida, cada audiência pública em que minha voz ecoa… é isso que me move. Minha missão é maior do que meu cansaço. A maternidade atípica não é leve, mas é potente”.
E para outras mães que estão começando essa trajetória, ela deixa um recado firme e acolhedor:
“Você não está sozinha. A dor é real, mas a força que você vai descobrir também é. Chore quando precisar, lute quando puder. A maternidade atípica não é leve, mas ela é potente. E se estivermos juntas, podemos transformar o nosso estado”, finaliza.