Quando Ivete Martinello calçou o tênis para caminhar pela primeira vez, após se recuperar da Covid-19, não imaginava que estava iniciando uma nova fase da vida. Aos 62 anos, com sequelas da doença, ela deu os primeiros passos tímidos numa pista de caminhada em Rio Branco. O que começou como uma tentativa de reabilitação virou paixão, propósito e uma verdadeira transformação pessoal. “A corrida foi meu remédio. Ela me devolveu a força que eu achava ter perdido”, conta.
Hoje, Ivete acumula mais de 25 participações em corridas de rua. Ela não corre por pódios, nem por velocidade, mas pela vida. “Nunca imaginei que, aos 60, estaria em melhor forma do que aos 40. A corrida me mostrou que nunca é tarde para recomeçar”, afirma.
Sob orientação do professor Mauro Albino, Ivete segue treinando três vezes por semana, incluindo treinos de corrida, musculação e corridas em grupo. “No início, correr era uma difícil, pois a gente procura o ar e não encontra. Mas com o tempo o pulmão se fortalece e a gente se acostuma”, explica ela.
O corpo em movimento, a vida em equilíbrio
A popularização da corrida de rua tem raízes diversas. O baixo custo para começar — um par de tênis e disposição — é um fator importante, mas é a transformação interna que mais atrai novos praticantes. Para muitos, correr é um respiro na rotina, um momento só seu, um ritual que ensina disciplina, constância e escuta do próprio corpo.
Foi assim com Marquilene Souza, servidora pública, que encontrou na corrida uma nova forma de cuidar da saúde. Ao se juntar a uma assessoria esportiva, passou a treinar com orientação, dividindo percursos e metas com um grupo de amigas. “O treino virou um compromisso com o bem-estar. A gente compartilha dores, vitórias e sorrisos. Correr em grupo dá leveza, vira diversão”, diz.
Essa experiência coletiva tem sido apontada como um dos elementos mais motivadores para a permanência na atividade. As assessorias e grupos de corrida oferecem mais do que planilhas: proporcionam acolhimento, segurança, planejamento e uma rotina com sentido. Hoje, Marquilene participa até de corridas em outros países, como no Peru.
A busca por saúde e autonomia
Embora cada pessoa tenha sua motivação — emagrecimento, superação, socialização ou saúde mental —, há um ponto em comum entre os corredores amadores: a percepção de que correr é uma ferramenta de transformação. Além dos benefícios físicos comprovados, como a melhora do condicionamento cardiovascular e da resistência muscular, há impactos emocionais profundos.
Para o professor Mauro Albino, especialista em treinamento de corrida, a prática regular é fundamental para melhorar a saúde física e mental. “A corrida não é só um exercício, é uma ferramenta poderosa de recuperação e prevenção, especialmente para quem enfrenta limitações ou sequelas”, afirma. “Respeitar os limites do corpo, manter a disciplina e buscar orientação adequada são os pilares para uma evolução saudável.”
Espaço urbano e segurança
O uso de parques e vias específicas, além da realização de provas organizadas, tem incentivado mais pessoas a ocuparem os espaços públicos. A presença de grupos também aumenta a sensação de proteção e pertencimento. “Corremos cedo, muitas vezes de madrugada. Estar com outras pessoas, com uma estrutura mínima, faz toda a diferença. Não me sentiria segura correndo sozinha”, relata Marquilene.
Quem corre, sabe: mais do que uma prática física, correr transforma o modo como se vive. A disciplina dos treinos transborda para outras áreas da vida. Comer melhor, dormir com qualidade, ter mais energia para o trabalho e desenvolver foco e perseverança são efeitos colaterais comuns.
“Você passa a se ouvir. A respeitar seus limites e a confiar no seu potencial. Correr me ensinou que tudo é processo. Não se chega aos 5 ou 10 km de um dia para o outro. É com constância, e isso vale pra tudo na vida”, resume Ivete.