O impasse entre os moradores do Castelo Branco e a Prefeitura de Rio Branco quanto à instalação do Centro Pop nos bairros está longe de acabar. Na manhã desta quinta-feira, 29, foi realizada uma audiência pública para discutir o assunto na Assembleia Legislativa do Acre (Aleac), sendo marcada por vaias e descontentamento por parte da comunidade.
A mudança do Centro Pop para o Castelo Branco tem gerado atritos desde a última semana, quando foi feita ainda na madrugada da última quarta-feira, 21, pela Secretaria Municipal de Assistência Social (SASDH). Moradores do bairro chegaram a fazer um protesto na Câmara de Vereadores e fecharam a rua que dá acesso ao local onde, agora, funciona o centro.
A audiência contou com a participação do secretário Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos, João Marcos Luz, e de movimentos em prol das pessoas em situação de rua. Presidido pelo deputado estadual Adailton Cruz (PSB), o debate teve momentos de clamor, por parte de moradores do bairro Castelo Branco, até bate-boca.
Daniel Nascimento, que já chegou a ser uma pessoa em situação de rua, questionou a falta de diálogo entre as pessoas nesta condição. “Eu consegui sair dessa situação, não é fácil, mas se tiver incentivo, é possível. O que a gente quer é um trabalho junto e pedir que tanto os movimentos sociais quanto os políticos nos escutem”, disse.
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Bate-boca entre morador e secretário
O presidente da Associação de Miradores do bairro Preventório, Edmilson Soares, em sua fala, enfatizou que uma das razões para que o Centro Pop fosse para o Castelo Branco era a presença do Restaurante Popular. O que era solução, segundo Soares, acabou se tornando um problema.
Soares ainda enfatizou que o secretário causará um problema grande com o Centro Pop. “Estamos acampados, todos os dias, esperando pelo senhor, pelo prefeito. O prefeito não foi falar conosco. Ele não teve a dignidade de parar e conversar com os moradores, como o senhor também não fez isso”, disse, dirigindo-se a João Marcos.
Edmilson também falou acerca do Restaurante Popular. “Tem aposentados que vão ao Restaurante Popular às 8 horas, é um horário de divertimento para elas até às 11h30, quando é servida a refeição. Eu fui ao Restaurante Popular quinta-feira e estava uma confusão: uma pessoa em situação passou na frente e pegou a marmita das pessoas que estavam na fila, isso é uma falta de respeito”, afirma o presidente.
João Marcos Luz disse que não era verdade e, por sua vez, Edmilson disse que viu com os próprios olhos: “Secretário, a gente estava lá na frente, o senhor respeite as pessoas. Eu estou falando e o senhor está me interrompendo”, explica.
Em sua fala, João Marcos Luz disse que, atualmente, o município de Rio Branco cumpre uma decisão judicial. “Das 140 marmitas que distribuíamos no Centro Pop no Centro, que eu não chamo nem de distribuição, era uma “marmitaria”, 60% eram para pessoas que não precisavam do serviço. São pessoas com casa. Nossos colaboradores eram ameaçados para darem as marmitas. Ninguém tomou uma atitude. Não tinha mais jeito. Se nós queríamos cumprir uma nova política pública, exigida pelo Ministério Público, queríamos reordenar o serviço”, disse.
Uma moradora do bairro Castelo Branco pediu a fala e chegou a chorar diante de todos. Segundo ela, a comunidade não está conseguindo sequer dormir por conta da ansiedade. “Nós temos amizade com as pessoas em situação de rua, todas elas, nos as acolhemos mais que vocês, porque nós que temos contato. Um desses moradores, que apareceram nas imagens, foi filmado por mim. Ele queria tomar um banho e dormir. Nem todos são agressivos, mas ninguém deu voz a gente, meu choro é de indignação. Todos [as pessoas em situação de rua], são gentis, mas há alguns, sim, que acabam sendo agressivos. Meu choro é de indignação”, finalizou.